Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Crucificação de Jesus – opinião espírita

Uma opinião espírita acerca da crucificação de Jesus é um dos pontos abordados neste vídeo que trata do capítulo 23 do Evangelho de Lucas. Este é o penúltimo vídeo de uma série de 30 vídeos em que analiso e interpreto o Evangelho de Lucas a partir dos conhecimentos proporcionados pelo Espiritismo.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 23

1. E, levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos.
2. E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.

Já não vemos, nestes capítulos finais, as parábolas e os grandes ensinamentos, mas narrativas históricas tentando reconstituir os fatos acontecidos.

Esta tradução “e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei”, não é a mais correta. Os judeus não tinham, naquela época, a ideia que nós fazemos do Cristo. A palavra “cristo” quer dizer “ungido”. Os antigos reis e sacerdotes eram ungidos com azeite; o verbo “ungir” quer dizer exatamente isso, “derramar ou esfregar azeite”. O azeite representava a pureza; quem era ungido, então, quem recebia a unção era purificado.

Então eles não estão se referindo a Jesus como o Cristo, ou o acusando de se passar pelo Cristo. Eles estão acusando Jesus de se passar por um rei ungido. Estão mentindo que Jesus proibia o povo de dar o tributo a César e que se declarava como um rei ungido, um rei consagrado, com direitos reais.

Vimos que quando perguntaram a Jesus se era lícito pagar o imposto a César, numa tentativa de pegá-lo em contradição, Jesus disse claramente para devolver a César o que é de César (Lucas 20:25), ou seja, não se posicionou contrário ao pagamento do tributo.  Além disso, Jesus tinha entre os seus discípulos um cobrador de impostos, que era Mateus, e havia se hospedado há poucos dias na casa de Zaqueu, em Jericó, que era chefe dos cobradores de impostos daquela cidade (Lucas 19:5).

O sinédrio, que era instituição dos judeus, não podia condenar à morte, por isso os judeus recorreram a Pilatos. Em João fica claro que eles já haviam condenado Jesus à morte. Só precisavam que Pilatos assinasse embaixo (João 18:29-32).

3. E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.
4. E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.

Indiretamente, Jesus confirmou ser rei, mas Pilatos percebeu que Jesus não era um revolucionário, pelo menos no sentido material.

Não podemos esquecer que nos primeiros anos do Cristianismo, quando foram escritos os Evangelhos, os cristãos eram perseguidos pelos judeus que não se converteram ao Cristianismo, e isso gerou muita animosidade entre eles. Os evangelistas parecem fazer questão de inocentar Pilatos e de atribuírem toda a culpa pela morte de Jesus aos judeus.

5. Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.
6. Então Pilatos, ouvindo falar da Galiléia perguntou se aquele homem era galileu.
7. E, sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.

O capítulo 13 de Lucas começa com os comentários a respeito dos galileus que haviam sido mortos por ordem de Pilatos. Provavelmente haviam iniciado uma revolta, coisa muito comum naqueles anos, e é dito que Pilatos misturou o seu sangue ao sangue do sacrifício, no templo. Agora, para não se comprometer com o julgamento de Jesus, resolve mandá-lo para Herodes, que era o tetrarca da Galileia – era tido pelo povo como o rei da Galileia, a terra de Jesus.

8. E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.
9. E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.
10. E estavam os principais dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11. E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12. E no mesmo dia, Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro.

Herodes estava em Jerusalém por ocasião das festividades da páscoa. No capítulo 9 de Lucas nós vimos que Herodes estava curioso acerca de Jesus e que queria vê-lo:

“E o tetrarca Herodes ouviu todas as coisas que por ele foram feitas, e estava em dúvida, porque diziam alguns que João ressuscitara dentre os mortos; e outros que Elias tinha aparecido; e outros que um profeta dos antigos havia ressuscitado.

E disse Herodes: A João mandei eu degolar; quem é, pois, este de quem ouço dizer tais coisas? E procurava vê-lo”. (Lucas 9:7-9)

Em Lucas 13:32 Jesus se referiu a Herodes como “essa raposa”. Herodes esperava ver algum sinal de Jesus, algum fenômeno, como se Jesus fosse um mágico. Jesus nem sequer responde às perguntas de Herodes. Herodes vestiu Jesus com uma roupa utilizada pelos príncipes, como uma forma de deboche, e mandou-o de volta a Pilatos.

Lucas diz que neste dia Pilatos e Herodes ficaram amigos, pois antes andavam em inimizade um com o outro. É possível que a causa desta inimizade tenha sido o fato de Pilatos ter mandado matar os Galileus no templo sem consultar Herodes, que seria o responsável por julgar os galileus. Com esta deferência de Pilatos, mandando Jesus até ele, Herodes deve ter se sentido importante e os dois se reconciliaram.

Aliás, todos se uniram contra Jesus. Todas as forças corruptas da sociedade superaram as diferenças que tinha entre si para se unirem contra Jesus.

13. E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo,
14. Disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.
15. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte.
16. Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.

Pilatos convoca os principais dos sacerdotes, os magistrados e o povo e repete que não achou nenhum crime em Jesus para condená-lo à morte. E talvez tentando satisfazer a raiva deles, manda castigar Jesus. A palavra “castigar”, no versículo 16, no original grego é pedeysas (παιδευσας), que tem o sentido de ensinar uma criança, corrigir uma criança. Pilatos ia então “corrigir” Jesus e depois soltá-lo.

Em Mateus é relatado o sonho que a mulher de Pilatos teve em relação a Jesus: “E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele” (Mateus 27:19). A palavra traduzida como sofrer – “muito sofri” – tem o sentido de “experimentar”. A mulher de Pilatos experimentou muitas coisas por causa de Jesus.

O aviso dela a Pilatos é no sentido de que ele não interfira no que está acontecendo. Que ele não condene nem liberte, que ele não se intrometa numa questão que não é dele.

De fato, se Pilatos tivesse assumido para si a responsabilidade de condenar Jesus, é possível que a História fosse diferente. Se acreditamos na superioridade de Jesus, temos que compreender que a maneira como tudo aconteceu também faz parte da sua mensagem.

Pilatos era o representante de Roma. Se Jesus fosse condenado por Roma, seria só mais um rebelde político a ser morto por Roma. Mas Jesus foi morto pelos seus, e é essa recusa em relação ao Cristo que nós temos que superar ainda hoje. Matamos o nosso Cristo interno cada vez que negamos nossa natureza de filhos de Deus e nos deixamos dominar pelo orgulho e pelo egoísmo.

17. E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa.
18. Mas toda a multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás.
19. O qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.

O versículo 17, que diz que “era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa” não faz parte dos textos originais de Lucas. Foi interpolado para concordar com os outros Evangelhos.

Não há nenhum registro histórico que ateste a existência de Barrabás. Manuscritos antigos trazem Jesus Barrabás. Provavelmente as cópias posteriores tiraram o nome Jesus, talvez para não chocar os mais sensíveis.

20. Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o.
22. Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-lo-ei.
23. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, prevaleciam.
24. Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.
25. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.

Pilatos insiste que Jesus era inocente, mas o povo pede para soltar Barrabás e para crucificar Jesus. Pilatos, talvez influenciado pelo sonho de sua mulher, resolve fazer a vontade deles.

Barrabás era acusado de sedição e homicídio. O nome de Barrabás era Jesus. Jesus Barrabás. E “Barrabás” quer dizer “filho do Pai”. Jesus foi condenado, oficialmente, como se fizesse passar-se por rei. Simbolicamente, o que os homens conseguiram condenar foi o rei dos judeus, mas não o filho do Pai. Jesus nos apresentou essa visão de Deus como o Pai, e pelo Evangelho de Jesus nos conscientizamos de nossa natureza de filhos do Pai.

Jesus havia sido aclamado na sua entrada em Jerusalém, há poucos dias. O povo o recebeu como o filho de Davi, o messias prometido. Agora esse mesmo povo o condenava. É verdade que provavelmente as lideranças político-religiosas de Jerusalém

tenham incentivado seus partidários a comparecerem junto a Pilatos para o pressionarem. Não podemos pensar, de modo algum, que a maior parte dos judeus de Jerusalém quisesse a morte de Jesus. Mas é fácil perceber que a população, vendo Jesus preso, sem reagir, sendo humilhado e açoitado pelos romanos, se decepcionou com aquele que eles pensavam que seria o seu libertador, o grande guerreiro que iria libertá-los do invasor romano e devolver a glória ao povo de Israel. Não conseguiam entender a superioridade moral de Jesus; talvez tenham se envergonhado da bondade de Jesus, confundindo bondade com fraqueza.

Os profissionais da religião de hoje e os seus dóceis seguidores ainda fazem a mesma coisa. Imaginam um Jesus que vive brigando com o diabo, um Deus que ameaça e pune, que condena ao inferno eterno e que se vinga dos seus próprios filhos.

26. E quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.

Talvez Jesus estivesse fisicamente exausto e os soldados temessem que ele morresse antes de ser executada a sua sentença.

O exemplo de Simão Cireneu nos mostra que devemos ajudar o nosso próximo a carregar a sua cruz, mas não podemos morrer por ele. Cada um é responsável pelo seu próprio destino.

27. E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam.
28. Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
29. Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!
30. Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos.

 A maior parte dos comentadores atribuem estas palavras de Jesus à queda de Jerusalém. O historiador Flavio Josefo narra o caso de uma mãe que comeu o próprio filho, tamanha era a fome e o desespero naqueles dias. Em Mateus, quando Pilatos decide condenar Jesus – ou permitir que Jesus fosse condenado -, ele lava as próprias mãos, dizendo que estava inocente do sangue de um justo, e o povo diz: – que o seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos (Mateus 27:25). É a isso que Jesus está se referindo agora, dirigindo-se às mulheres.

Através da reencarnação, aqueles que condenaram Jesus voltam ao mundo material como seus próprios descendentes. A palavra “filhos” é usada como descendentes, assim como a palavra “pais” é usada referindo-se aos ancestrais. O sangue de Jesus cairia sobre eles, sobre aqueles espíritos responsáveis pela condenação de Jesus, quando estes espíritos reencarnassem como seus próprios descendentes.

31. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?

No capítulo 15 de João Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15:1-2).

Jesus é o madeiro verde, vivo, a videira verdadeira. O madeiro seco é aquela vara que é arrancada pelo Pai, é aquele que ainda não descobriu o seu Cristo interno, que ainda não evoluiu suficientemente para receber a seiva da videira que é o Cristo.

Se Jesus, um espírito puro, que não tinha nada a expiar, experimentou a dor, os espíritos da Terra, que ainda estão submetidos a provas e expiações, certamente ainda têm na dor um importante mecanismo de ajuste.

32. E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.
33. E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
34. E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.

Os dois que foram crucificados com Jesus talvez fossem companheiros de Barrabás, que foi trocado por Jesus. Fica demonstrado que a crucificação era comum, e que o mérito de Jesus não está no seu sofrimento. É comum em pregações religiosas enaltecerem o sofrimento físico de Jesus, como se isso tivesse alguma importância. A forma da morte de Jesus foi apenas um detalhe da sua missão, que em relação a nós consiste na revelação do Evangelho.

Os evangelistas relatam falas diferentes de Jesus na cruz. Lucas diz que Jesus pede ao Pai que os perdoe, pois eles não sabem o que fazem. Se Jesus disse isso foi para nos servir de exemplo, pois Deus não perdoa. Só perdoa quem se ofende, e Deus não se ofende. Nossos erros não atingem Deus. É pretensão demais de nossa parte achar que Deus, creador do Universo infinito, se ofende com as nossas picuinhas.

As Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. Quem nos julga é a nossa própria consciência. Perdoar é deixar ir, deixar para trás, libertar. Ao se reportar ao perdão de Deus Jesus está pedindo que a consciência culpada se permita novas oportunidades, que se liberte dos erros cometidos, pois seu estado incipiente não tem noção da gravidade dos seus erros.

A Lei age sempre. Mas ao perdoarmos a nós mesmos, através da nossa consciência,

nos permitimos recomeçar em condições mais amenas e construtivas do que se permanecêssemos ligados ao erro.

Os soldados romanos sortearam entre si as vestes de Jesus. Simbolizam todos os espíritos que ainda não se conscientizaram da realidade espiritual, pois Jesus estava prestes a libertar-se das suas vestes carnais. Os soldados disputavam para ver quem ficava com as vestes sem perceberem que o valor não está nas vestes, mas no espírito que se utiliza das vestes.

Hoje ainda muitos religiosos se apegam ao corpo de Jesus, representando-o eternamente pregado numa cruz, atribuindo poderes ao seu corpo e ao seu sangue, esquecendo-se de que Jesus prometeu, em Mateus, que estaria sempre conosco (Mateus 28:20).

35. E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou, salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.
36. E também os soldados o escarneciam, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre.
37. E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
38. E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: Este é o rei dos judeus.

Lucas narra que zombavam de Jesus, desafiavam Jesus a salvar-se a si mesmo, se era realmente o Cristo. Não entenderam que o reino de Deus, de que Jesus falava, é um estado interno, que já existe dentro de nós, em estado embrionário, dependendo exclusivamente de nós para ser desenvolvido.

39. E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós.
40. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?
41. E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.
42. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
43. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

Os dois malfeitores simbolizam nossas reações em relação ao erro. Errar faz parte do nosso processo de aprendizado. Mas enquanto uns erram indefinidamente, sem aprender com os erros, outros se arrependem e tiram do resultado dos erros lições importantes, dispostos à reparação dos erros.

No versículo 43 encontramos uma antiga polêmica. A tradução diz: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”. Lembramos que os manuscritos originais em grego não têm sinais de pontuação. A palavra “que” – te digo “que” hoje -, contida na tradução, também não consta no original. 

O que se discute é a atribuição do advérbio “hoje”. Este advérbio está ligado a um dentre dois verbos. Se estiver ligado ao verbo “estarás”, esta tradução está correta: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”. Se o advérbio “hoje” estiver ligado ao verbo “digo”, a tradução correta é: “Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso”.

Se a tradução que nós lemos está correta, o malfeitor teria ido para o paraíso com Jesus no mesmo dia, o que é inconcebível. Mesmo arrependido, o espírito colhe aquilo que plantou. O fato de arrepender-se proporciona ao espírito, encarnado ou desencarnado, condições de reparar o mal cometido, mas não o isenta da colheita. A cada um segundo as suas obras, disse Jesus (Mateus 16:27).

Além disso, Jesus não foi para o paraíso neste mesmo dia. Pedro, em sua primeira epístola, diz que Jesus, em espírito, foi pregar aos espíritos em prisão (1 Pedro 3:18-19). Os espíritos em prisão estão nas regiões purgatoriais, que nós conhecemos como umbral, ou no astral inferior, mas não no paraíso.

No Evangelho de João, quando Jesus aparece para Maria Madalena, ele lhe diz que ainda não havia subido para o pai (João 20:17), então é certo que o ladrão não esteve com Jesus no paraíso naquele mesmo dia, pois Jesus não estava no paraíso.

O ladrão pede a Jesus que se lembre dele quando Jesus entrar no seu reino. Jesus, em resposta, deixa claro que não é preciso que ele entre no seu reino para lembrar do ladrão, mas que desde já, desde agora, hoje mesmo, afirma que o ladrão estará com ele no paraíso. Quando? Quando o ladrão, que já se mostrava arrependido, estivesse suficientemente elevado para isso.

O ladrão não compreendia o reino de Deus, não sabia que o reino de Deus é um estado interno, mas Jesus, sabendo da incapacidade de compreensão do ladrão, em seu estágio evolutivo, não o corrige, fala a mesma linguagem que o ladrão, prometendo o paraíso, que era o máximo que o ladrão conseguia imaginar.

Na Septuaginta, a antiga tradução grega do Antigo Testamento, a palavra “paraíso” é como foi traduzida a expressão “jardim do éden”, que é citada no Gênesis (Gênesis 2:8).

44. E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-se o sol;
45. E rasgou-se ao meio o véu do templo.

Nenhum historiador registrou esse escurecimento da Terra. Temos que entender isso simbolicamente como um período de domínio das trevas sobre a luz. O véu do templo era o véu que protegia o chamado “Santo dos Santos”, uma parte do templo ao qual só quem tinha acesso era o sumo sacerdote.

O véu que se rompe simboliza o livre acesso a Deus proporcionado pelo ensinamento que Jesus nos legou. Não somos mais dependentes de templos ou religiões; Deus está ao nosso alcance, pois Deus está dentro de cada um de nós.

46. E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.
47. E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
48. E toda a multidão que se ajuntara a este espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltava batendo nos peitos.
49. E todos os seus conhecidos, e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galiléia, estavam de longe vendo estas coisas.
50. E eis que um homem por nome José, senador, homem de bem e justo,
51. Que não tinha consentido no conselho e nos atos dos outros, de Arimatéia, cidade dos judeus, e que também esperava o reino de Deus;
52. Esse, chegando a Pilatos, pediu o corpo de Jesus.
53. E, havendo-o tirado, envolveu-o num lençol, e pô-lo num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto.
54. E era o dia da preparação, e amanhecia o sábado.
55. E as mulheres, que tinham vindo com ele da Galiléia, seguiram também e viram o sepulcro, e como foi posto o seu corpo.
56. E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos; e no sábado repousaram, conforme o mandamento.

A morte de Jesus na cruz é o último símbolo do Evangelho. Infelizmente a imagem que se mantém viva para muitas pessoas é Jesus pregado na cruz. Jesus continuou vivo e reapareceu aos seus discípulos. A morte na cruz simboliza a vitória sobre a matéria. A própria cruz representa o corpo material.

O Evangelho é o roteiro para o abandono da necessidade material, é o gabarito da prova terrena. Jesus nos legou com o seu exemplo um roteiro que devemos seguir para superarmos essa etapa da nossa evolução.

Jesus deixa o seu corpo físico com a cruz e entrega o seu espírito a Deus, entrega-se para Deus. É o nosso destino. Nos libertarmos da materialidade, dos desejos, das sensações, do orgulho, do egoísmo, disso tudo que é representado por uma palavra que personalizaram, a palavra “satanás”, que não é um ser, mas um estado de ser.

Esse é o destino de todos nós. Nosso livre-arbítrio, em última análise, é apenas a escolha sobre o maior ou menor tempo que levaremos para alcançar esse estágio.

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