Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Se o grão de trigo cair na terra e não morrer, ele fica só; mas, se morrer, dá muito fruto

Se o grão de trigo cair na terra e não morrer, ele fica só; mas, se morrer, dá muito fruto. Essa declaração de Jesus reflete os mistérios de Elêusis, praticados na Grécia antiga. Jesus assim se reporta aos gregos que vieram conversar com ele a respeito do ritual de morte de Lázaro. Este é o tema deste vídeo, o 22º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 12:20-26

  1. Ora, havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa.
  2. Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
  3. Filipe foi dizê-lo a André, e então André e Filipe o disseram a Jesus.

Poucos dias antes Jesus havia participado do ritual de morte e renascimento de Lázaro – agora os gregos o procuravam. Esse ritual de morte e renascimento experimentado por Lázaro era comum entre os gregos. 

  1. E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado.
  2. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.

Jesus está falando com os gregos exatamente do assunto que eles vieram falar com Jesus: o ritual de que Lázaro participara. Dissemos há pouco que a maior parte do ensino de Jesus está nos simbolismos. Isso não é uma característica exclusiva de Jesus, pelo contrário. Temos que nos reportar ao mundo antigo e imaginar um mundo sem meios de comunicação de massa, onde a escrita era privilégio de pouquíssimas pessoas.

Em 3000 a. C. os egípcios já deixavam gravadas as suas doutrinas através de hieróglifos, que nada mais eram do que símbolos. O meio de ensinar o povo a respeito de questões espirituais era através de simbolismos e de representações teatrais – que aos olhos de hoje são rituais.

Numa escola de educação infantil não se dá grandes discursos para as crianças – pois elas não compreendem grandes discursos. Ensina-se as crianças, nas boas escolas, através de representações teatrais, de histórias, de fábulas, lendas, figuras de animais, símbolos marcantes capazes de despertar a sua atenção, de ser facilmente assimiláveis pela sua caracterização carregada, caricatural, e, consequentemente, mais fáceis de serem gravadas.

Uma criança de seis ou sete anos hoje tem muito mais informação do que um adulto tinha alguns milhares de anos atrás. Pense nisso. Pense no que era uma vida sem informações além das coisas de sempre, do cotidiano.

O ensino de Jesus tem vários níveis de entendimento. Os mistérios gregos tinham pelo menos dois níveis de entendimento – o profano e o sagrado: o popular, oferecido à grande massa inculta; e o espiritual (ou esotérico, como preferem alguns), destinado aos iniciados.

De todos os mistérios da Antiguidade (chamamos de mistérios as antigas religiões de mistérios, que eram as religiões que tinham um conjunto de ensinamentos secretos), os mais famosos eram os mistérios de Elêusis.

Elêusis é uma cidade da Grécia, a menos de 30 quilômetros de Atenas. Os mistérios de Elêusis duraram aproximadamente mil anos – de 600 a. C. até mais ou menos 400 d. C., quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano e os cultos pagãos foram proibidos. É preciso que se diga que os cultos pagãos foram incorporados pela Igreja – mas isso já é outro assunto.

Os mistérios de Elêusis se baseiam na mitologia grega. Perséfone, filha da deusa grega Deméter, foi raptada por Hades enquanto colhia flores. Hades é o rei do lugar dos mortos para os antigos gregos. O que os espíritas hoje chamam de “plano astral” era chamado pelos antigos gregos de “hades”.

Deméter, mãe de Perséfone, é a deusa da terra cultivada, das colheitas e das estações do ano. É Deméter quem propicia o trigo, que é a planta símbolo da civilização. Quando Deméter soube que Perséfone foi raptada, ficou tão abalada que deixou de cuidar das plantações dos homens – sendo que ela mesma havia ensinado a agricultura aos homens.

Como Deméter não cuidava mais das plantações dos homens, os homens morriam de fome. Então Zeus, pai dos deuses e dos homens (que era irmão de Hades, e que havia permitido a Hades que raptasse Perséfone), propõe um trato: Perséfone deveria voltar à Terra durante seis meses para visitar sua mãe e outros seis meses passaria com Hades.

Esse mito simboliza a semeadura das sementes na terra e a germinação das sementes e consequentemente novas colheitas – uma espécie de morte e renascimento.

Este é o seu sentido popular, e neste sentido ele era comemorado pelos camponeses, que eram a maioria do povo, e que dependiam de boas colheitas para viver.

No seu sentido oculto, espiritual ou esotérico, esse mito é a representação simbólica da longa jornada do espírito, da descida do espírito à matéria, dos seus sofrimentos nas trevas do esquecimento da sua verdadeira natureza, e das suas idas e vindas através do ciclo reencarnatório.

Havia os mistérios menores e maiores. Os mistérios menores eram como uma grande encenação festiva para a grande massa; os mistérios maiores eram para quem tinha condições de se tornar um iniciado – e nestes mistérios havia uma morte simulada, um simbolismo da morte da personalidade para o renascimento em um nível espiritual mais elevado.

“(…) se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” – o grão de trigo de Elêusis deveria morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para que pudesse renascer como planta, vir à luz – à luz do Sol, à luz do dia – depois de abrir caminho com o seu esforço através das trevas em que germinava.

Em nosso comentário ao capítulo 11, dissemos que vem crescendo o número de pessoas que acredita que o Jesus histórico não existiu – que Jesus é um mito inventado por um grupo de pessoas e que tudo o que se atribui a Jesus são antigos mitos copiados de antigos deuses.

É fácil chegar a essa conclusão quando se acredita cegamente que Jesus é Deus e quando não se vê nada além do que as letras mostram. Quando as pessoas acostumadas a uma visão da Bíblia ao pé da letra se deparam com outras informações, quando se dão ao trabalho de pesquisar, de consultar outras fontes que não a própria Bíblia, a desilusão é grande. A tendência, então, é negar tudo.

Que Jesus está se referindo aos mistérios de Elêusis não há dúvida – é a única vez nos Evangelhos em que Jesus fala com os gregos, e isso acontece logo depois de Lázaro ter experimentado um ritual semelhante ao que se praticava em Elêusis, de morte e renascimento, e por conta disso Jesus fala do “grão de trigo que deve morrer para dar fruto, para renascer”, exatamente o que era ensinado em Elêusis. Negar isso é negar a evidência.

Antes de dizer isso Jesus diz que “(…) É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado” – novamente a melhor tradução aqui é “reconhecido”, e  não “glorificado”.

O “filho do homem” é o nosso próximo estágio evolutivo, é o fruto do homem, o resultado do homem. É chegada a hora em que o nosso próximo estágio evolutivo há de ser reconhecido, em que havemos de reconhecê-lo, percebê-lo, dar-nos conta de que podemos e devemos progredir espiritualmente.

Este é o ensino que está por trás das letras. O ensino de Jesus sempre está além do seu sentido imediato. Mas Jesus estava em meio ao povo, entre judeus e gregos, e o sentido imediato do que ele dizia é que se aproximava a hora da sua morte. O que ele disse depois disso, sobre o grão de trigo, serve para ele também. 

  1. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.

A palavra traduzida como “vida” é psique (ψυχη). Não é a nossa vida espiritual, eterna – mas a nossa existência transitória como personagens, a nossa personalidade efêmera e provisória. Eu estou Morel Felipe Wilkon, eu estou num corpo carnal, por enquanto eu tenho um determinado comportamento, e uma série de referências também transitórias – como pessoas, lugares, cultura, o tempo em que eu vivo. Mas eu sou espírito imortal, assim como você.

Quem ama a sua psique, ou seja, todas essas coisas a que nos referimos, vai perdê-la. Mas quem odeia a sua psique guardá-la-á para a vida eterna.

Temos que lembrar que o verbo miseó (μισεω), que quer dizer “odiar”, é a tradução de um hebraísmo, uma expressão do idioma dos israelitas em que há mais ênfase do que nós costumamos utilizar. Na falta de uma palavra mais adequada para traduzir o pensamento de Jesus, foi usado o verbo miseó, que quer dizer “odiar”.

Quem ama todas essas coisas materiais transitórias, quem ama a sua personalidade, está fadado a sempre perder essa personalidade – pois quando reencarnamos perdemos temporariamente a lembrança de outras existências e iniciamos uma nova personalidade.

A cada nova existência somos herdeiros de nós mesmos, trazemos conosco o resultado das nossas experiências anteriores – mas nem sempre encontramos condições de desenvolvê-lo, pois somos influenciados pelo meio em que estamos inseridos.

Mas quem odeia a sua personalidade, ou melhor, quem não ama a sua personalidade, quem não se apega à sua personalidade, quem se ocupa com os valores eternos do espírito, acaba desenvolvendo o que este Evangelho chama de “vida eterna”: a vida plena, a vida em Deus, a vida sem perda de consciência, o desenvolvimento da nossa individualidade divina. Então não mais deixamos de ser quem somos.

  1. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará.

Aqui Jesus obviamente não se refere a ele como o homem Jesus, mas como o Cristo. Jesus é o Cristo plenamente desenvolvido. Nós temos o Cristo dentro de nós. Ao servirmos o Cristo que habita em nós, nós somos honrados por Deus, entramos em harmonia com a creação divina e o viver torna-se uma honra permanente.

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