Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Eu sou a videira verdadeira – Espiritismo

Jesus, no Evangelho de João, faz sete afirmações começando por “eu sou”. Essas afirmações traduzem a natureza do Cristo, a nossa natureza divina. No capítulo 15, que é o alvo de estudo deste vídeo, Jesus faz a sétima afirmação: “Eu sou a videira verdadeira”.

Neste mesmo capítulo há uma declaração de Jesus que foi usada pela Inquisição como argumento para a condenação à morte na fogueira: “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem”.

Este é o 29º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 15

Este capítulo começa com o sétimo e último “Eu Sou” de Jesus.

Jesus disse:

1. Eu sou o Pão da Vida – ou o Pão Vivo (6:35);

2. Eu sou a Luz do mundo (8:12);

3. Eu sou a Porta das Ovelhas (10:7);

4. Eu sou o Bom Pastor (10:11);

5. Eu sou a Ressurreição e a Vida (11:25);

6. Eu sou o Caminho, e a Verdade e a Vida (14:6); e agora Jesus diz

7. Eu sou a Videira verdadeira (15:1).

  1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
  2. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.

A videira – assim como a figueira – representa um importante símbolo para os israelitas (Isaías 5:1; Ezequiel 15:1-6; 19:10-14), como, por exemplo, em Jeremias 2:21:

“Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada como vide estranha?”

O Cristo é a videira verdadeira. Todas essas afirmações de Jesus se referem ao Cristo, não ao homem Jesus. O Cristo, que é a manifestação de Deus no mundo sensível, é a videira verdadeira.

O Cristo é a nossa natureza íntima. Em nosso íntimo, num ponto a que ainda não temos acesso, nós somos partículas divinas, somos manifestações individualizadas de Deus. O nosso Cristo interno é a videira; Deus, Creador do Universo, é o lavrador; e nós, espíritos imortais que evoluímos neste planeta, somos as varas ou ramos da videira.

As Leis de Deus estão gravadas em nossa consciência. Tudo, no Universo, obedece às Leis de Deus, perfeitas e imutáveis. Assim como a videira depende do lavrador para desenvolver-se, o nosso Cristo interno depende da nossa consciência para o seu desenvolvimento. Conforme vamos nos conscientizando, tomando conhecimento das Leis de Deus e vivendo de acordo com as Leis de Deus, em harmonia com as Leis de Deus, o Cristo que habita em nós vai se expandindo, ocupando um espaço maior em nós, substituindo, pouco a pouco, o nosso ego personalístico pela nossa individualidade divina.

Todo ramo que não dá fruto é removido pelo Pai. Os ramos são as personalidades transitórias, as personagens que interpretamos a cada existência terrena. Cada reencarnação é uma nova oportunidade de desenvolvermos o nosso Cristo interno. Se não damos fruto, a nossa consciência (que é onde estão gravadas as Leis de Deus) automaticamente nos afasta, nos remove do Cristo.

Quando damos fruto, nossa consciência nos limpa, nos purifica, nos proporciona mais e melhores condições para que demos ainda mais fruto. Como Jesus disse em outra ocasião, “àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado” (Mateus 13:12). 

  1. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.
  2. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.

Os frutos que damos na verdade não são nossos. O verbo grego traduzido aqui como “dar” é pherein (φερειν), que é melhor traduzido como “levar”, “transportar” – o ramo não dá fruto de si mesmo, ele apenas leva, transporta o fruto da videira. É a videira, com a sua seiva, que produz fruto através dos ramos. Por isso o bem que fazemos não é mérito nosso, é Deus se manifestando através de nós. 

“Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” – a palavra, por si só, não limpa ninguém, não purifica ninguém. Se a palavra tivesse o poder de purificar, todas as pessoas que frequentam templos religiosos de qualquer espécie seriam santas; você se tornaria um santo, agora, lendo as minhas palavras.

Alguém pode dizer que não é qualquer palavra, mas a palavra de Jesus – mas Jesus falava a todos os judeus e apenas uma pequena minoria o seguiu.

Não é de palavra que Jesus está falando.  O texto grego diz logos: “Vós estais purificados através do Logos de que vos falei”.

Este Evangelho começa dizendo: “No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus e o Logos era Deus” – o Logos, quase sempre traduzido como “verbo” ou “palavra”, é o Cristo. O evangelista se utiliza de um termo muito conhecido no mundo grego para descrever o Deus imanente, o Deus que está em tudo e em todos.

Jesus nos falou do Logos, da nossa natureza divina, e de acordo com o nosso grau de receptividade ao Logos, nós nos purificamos.

Em 14:6 Jesus disse: “ninguém vai ao pai senão por mim” – o fruto da videira não vai às mãos do lavrador, que é o Pai, se não for através da videira verdadeira, que é o Cristo.

  1. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
  2. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.

Este versículo 6 foi usado como embasamento para as condenações à morte na fogueira pela Inquisição. Para as mentes fanáticas da época, que visavam apenas o poder, isso era uma autorização de Jesus para queimar na fogueira aqueles que não estivessem de acordo com a Igreja, que se apropriou do Evangelho e o deturpou.

Quando fazemos essas críticas ao passado da Igreja estamos criticando pessoas, não instituições. As instituições são formadas por pessoas. A Igreja da época refletia o grau de adiantamento da humanidade da época. Hoje nós melhoramos um pouquinho. Hoje outras correntes religiosas ou pseudo-religiosas usam o nome do Evangelho para fazer fortuna e conquistar poder. A diferença é que hoje não matam quem pensa diferente deles. Nós avançamos. Lentamente, mas avançamos.

Por que nós fazemos questão de dizer que não criticamos a Igreja como instituição? Por que nós estávamos lá. Nós vivemos aquele período, e todos os períodos da História – nós construímos a História. Nós fazemos a nossa evolução na Terra, há muito tempo, e talvez permaneçamos por aqui por muito tempo ainda.

Todos os grandes crimes da História foram perpetrados por nós. Não somos assim tão bonzinhos, não fomos sempre vítimas, também fomos algozes.

É comum vermos pessoas criticando fervorosamente o passado da Igreja – mas essas mesmas pessoas que hoje criticam podem ter sido as causadoras de alguns de seus erros, ou pelo menos ter sido coniventes com esses erros. Graças à Igreja o Evangelho chegou até nós.

Muitos acham que este versículo 6 fala da “condenação ao fogo do inferno”. Não é nada disso. Para começar, o tempo do verbo, no texto original grego, é o presente: Se alguém não estiver em mim, “é” lançado fora – e não “será” lançado fora.

Somos espíritos imortais, mas a cada reencarnação somos uma personalidade diferente. O que este Evangelho chama de “vida eterna” é justamente a manutenção da consciência através do tempo. Hoje, em nosso estágio evolutivo, cada vez que viemos ao plano físico perdemos
temporariamente nossa memória do passado, não temos acesso a tudo o que já vivemos.

Isso porque não desenvolvemos o nosso Cristo interno. Somos muito pouco crísticos. Interpretamos personagens e pensamos que somos essas personagens, mas essas personagens são apenas uma pequeníssima faceta da nossa individualidade. É uma ilusão, não é o nosso Eu real.

Essas personagens que interpretamos, se não estiverem em comunhão com o Cristo, são lançadas fora, secam, são lançadas no fogo e ardem – são afastadas do Cristo automaticamente pela nossa consciência.

O fogo representa a purificação. O fogo purifica e transforma. O que é queimado não deixa de existir, mas adquire nova forma, novo estado. O espírito que não entrou em comunhão com o Cristo terá que reencarnar e tentar novamente, quantas vezes forem necessárias, sempre revestindo nova forma, novo estado, nova personalidade.

  1. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.

Para que nossos pedidos sejam atendidos é preciso estar em comunhão com o Cristo. Isso corrobora o que dissemos sobre os pedidos que se faz em nome de Jesus, tema que tratamos no capítulo 14. Isso se refere a pedidos ligados às coisas do espírito, não a caprichos materiais.

  1. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.

Preferimos a tradução do verbo edoxaste (εδοξασθη), indicativo aoristo, na voz passiva, terceira pessoa do singular do verbo doxazó (δοξαζω), como “reconhecido” em vez de “glorificado”. Deus é reconhecido quando damos muito fruto – na verdade, como já vimos, quando “levamos” fruto, “transportamos” fruto, pois o fruto não é nosso, mas do Cristo.

Deus é reconhecido em nós pelos nossos frutos. Jesus disse que pelo fruto se reconhece a árvore (Mateus 7:16-17). Para saber se alguém tem Deus dentro de si basta olhar seus frutos.

  1. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
  2. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.
  3. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.
  4. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.

Estes versículos resumem todo o ensino de Jesus. Moisés nos ofereceu os Dez Mandamentos. Jesus resume todo o seu ensino num único mandamento: que nos amemos uns aos outros. Todos os Dez Mandamentos de Moisés estão inseridos dentro deste mandamento.

Quem ama o seu próximo não rouba, não mata, não mente, não trai. O amor na prática é a caridade. Foi isso o que Jesus nos ensinou não apenas com palavras, mas justamente na prática, para que tivéssemos o exemplo a seguir.

A ideologia que prega a salvação pela fé, independentemente das obras (ou seja, da ação, do trabalho em benefício do próximo) não é cristã, é paulina. Paulo foi um grande homem, sem dúvida alguma. Mas Paulo é Paulo, Jesus é Jesus.

Na verdade, a teoria da salvação pela fé é uma má interpretação das palavras de Paulo. Paulo falava das obras da Lei e entenderam como se ele se referisse a toda e qualquer obra.

  1. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

Este versículo não se refere a “dar a vida” no sentido literal. A palavra traduzida como “vida” é psique (ψυχη). A tradução literal é “colocar a sua psique sobre os seus amigos”, ou “colocar a sua alma sobre os seus amigos” – o sentido é de zelar sobre os amigos.

Podemos ter uma ideia disso se lembrarmos das imagens do anjo da guarda protegendo as crianças. Geralmente nos quadros os anjos eram pintados sobre as crianças, zelando por elas. Isso é colocar a alma sobre alguém: proteger, zelar, cuidar.

  1. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.

O que Jesus manda (ou seja, o seu “mandamento”) é o que ele acabou de dizer: “que nos amemos uns aos outros”. Se nos amarmos seremos considerados na categoria de amigos de Jesus, e, como seus amigos, mereceremos da parte dele que ele “coloque a sua alma sobre nós” – ou seja, que nos proteja e zele por nós.

É claro que nós não precisamos imaginar Jesus cuidando de nós pessoalmente, até porque não somos assim tão importantes, e também porque teríamos que apelar para a fantasia se quiséssemos crer que Jesus cuidaria de todos ao mesmo tempo pessoalmente.

Mas somos protegidos, nos momentos mais críticos, por espíritos trabalhadores da causa de Jesus, que, dependendo da crença, são conhecidos como “anjos da guarda”, “espíritos protetores”, “santos” ou “espírito santo”, que São Jerônimo muito acertadamente traduziu como “espírito bom”.

  1. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.

Doulos (δουλος) na verdade é “escravo”, não “servo”. Quando tomamos contato com as grandes verdades, ainda nos nossos primeiros passos na espiritualidade, obedecemos pelo medo, acatamos os dogmas sem nos questionar, agimos como escravos.

Conforme vamos adquirindo conhecimentos e experiências, ao longo de inúmeras existências, passamos a ter uma maior compreensão e já não obedecemos movidos pelo medo de um suposto castigo de Deus, do fogo eterno, do diabo – já nos permitimos submeter os dogmas ao crivo da lógica, já usamos a razão. Obedecemos por nossa própria vontade, por percebermos que é este o caminho da felicidade e alegria plenas. 

  1. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.
  2. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros.

O Cristo se manifesta em nós conforme o nosso grau de adiantamento espiritual. Não basta dizer que crê em Jesus, ou ingressar em qualquer agrupamento religioso, ou se submeter a rituais e cerimônias para entrar em comunhão com o Cristo.

Os mais conservadores podem alegar que Jesus estava se referindo apenas à escolha dos seus discípulos – pois não foram os discípulos de Jesus que o escolheram, mas foi o próprio Jesus quem os escolheu.

É evidente que Jesus proferiu estas palavras para os seus discípulos abordando um fato ocorrido entre eles. Mas os fatos ocorridos durante a existência de Jesus no plano físico foram os pretextos de que ele se utilizou para nos deixar o seu ensino. Jesus aproveitava todas as oportunidades para nos deixar ensinamentos que nós só seríamos capazes de compreender muitos séculos depois.

Sintonizamos com o Cristo ao elevarmos o nosso padrão vibratório, e só nos elevamos através do amor. Amando-nos uns aos outros nós nos elevamos e somos automaticamente escolhidos pelo Cristo.

“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei (…)” – eu vos nomeei, ou seja, eu vos dei nome. Como vimos, o nome, na Bíblia, não é apenas uma palavra para designar uma coisa. O nome representa a própria coisa.

Em 17:6 Jesus diz que veio “manifestar o nome de Deus” – essa manifestação é a própria vida de Jesus. O nome é a manifestação externa de uma realidade interna. O nome é a manifestação da essência em forma de existência.

“(…) e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda” – quando nos tornamos manifestação do Cristo nós frutificamos, transportamos para o próximo o fruto que é do Cristo – pois o Cristo é a videira, nós somos apenas os ramos. Manifestando o Cristo, transportando o fruto do Cristo, podemos pedir ao Pai qualquer coisa em nome do Cristo – pois nos tornamos co-creadores com Deus.

Quando pedimos em nome do Cristo, não estamos pedindo favores para nós, estamos pedindo uma concessão para crear amor. Passamos a crear amor onde antes não havia nada. O desenvolvimento intelectual faz descobrir coisas que já existem. O desenvolvimento moral crea amor onde antes não existia nada.

Enquanto o homem que só avançou intelectualmente apenas descobre coisas, decifra leis da Natureza que já existem, o homem que se desenvolveu moralmente é um creador de valores novos.

As grandes invenções humanas, as leis descobertas pelos físicos, químicos e matemáticos apenas revelam fatos já existentes. A eletricidade existe de qualquer maneira, independentemente das leis explicadas pelos homens. As ondas eletromagnéticas são um fato que independe de sua compreensão. Um celular ou um rádio funcionam mesmo se não acreditarmos ou não compreendermos como eles funcionam. Porque as leis que regem o seu funcionamento são fatos existentes por si sós, sem dependência dos homens.

O homem que desenvolve e pratica o seu aspecto moral faz existir coisas que antes não existiam. Ele faz com que surja a compreensão da grandeza da Vida e de Deus; ele faz com que se experimente, mesmo que por alguns momentos, o amor pelo amor, o sentimento que não depende de nenhum fator externo para existir; ele faz com que as ideias elevadas a respeito dos ensinamentos cósmicos de Jesus se propaguem, e que mais pessoas se modifiquem internamente.

O homem bom é creador de bondade. Ele faz com que surjam bons sentimentos, pensamentos elevados, palavras de bom ânimo e ações construtivas e úteis onde antes não havia nada.

  1. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
  2. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.

Nós vimos no capítulo anterior que o governante deste mundo (que geralmente traduzem como príncipe deste mundo) é Jesus. Os comentadores são unânimes em dizer que o príncipe deste mundo é o diabo – ou, para quem não acredita no diabo como um ser, o príncipe deste mundo é o princípio do mal, o antagonismo a Deus.

É verdade que o que nós conhecemos como mal ainda predomina na Terra. Há dois mil anos isso era ainda mais acentuado. Mas o governante do mundo, de acordo com este Evangelho, é Jesus.

Em 1: 10-11 está escrito:

“Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”.

Esse prólogo do Evangelho de João está falando do Cristo, que é a nossa natureza divina. Mas é claro que o evangelista faz uma referência direta a Jesus. O mundo, a que Jesus se refere, não é o globo terrestre, mas a humanidade, os espíritos que fazem a sua evolução neste planeta.

Este Evangelho apresenta Jesus como o responsável maior pela humanidade terrestre. É o governante do mundo. Mas como o mundo ainda é pouco evoluído, como a média dos espíritos daqui ainda não é elevada o suficiente para sintonizar com o Cristo, Jesus foi perseguido, e aqueles que verdadeiramente o representam também são perseguidos. 

“Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” – numa leitura desatenta, podemos ter a impressão de que os discípulos de Jesus, a quem ele disse isso diretamente, e todos os seguidores sinceros de Jesus, em todos os tempos, não sejam do mundo. Mas logo depois Jesus diz que os escolheu do mundo: εκ του κοσμου, “de dentro para fora do mundo” – então todos são do mundo.

Os que são escolhidos pelo Cristo, como nós já falamos, são os que se elevam – estes são naturalmente escolhidos porque se destacam dos demais, se sobressaem da grande massa do mundo.

É como se fervêssemos uma mistura de álcool com água. O álcool evapora a pouco menos de 80°, a água evapora a 100°. Quando a mistura atingir a temperatura de 80°, o álcool contido na mistura se elevará naturalmente em estado de vapor, enquanto a água permanecerá em estado líquido.

Quem se eleva espiritualmente se torna um incômodo para quem não se elevou. O que não se elevou ainda não suporta nada diferente daquilo a que ele está acostumado, e se ele estiver no comecinho do processo de conscientização, sentirá que é acusado (embora ninguém o acuse), verá os seus erros e falhas de caráter mais expostos, a sua hipocrisia em evidência, a sua preguiça ultrajada pela ação daquele que já se elevou.

  1. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.

Perseguindo ao Cristo, estão perseguindo àqueles que o desenvolveram ou estão prestes a desenvolvê-lo. Mas, assim como ouviram o Logos em Jesus, ouvirão o Logos em cada um de nós, de acordo com o nosso grau de desenvolvimento.

  1. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.

Lembramos mais uma vez que o nome é a manifestação externa da realidade interna. Não conhecendo a Deus, não conhecem a manifestação de Deus, que é o Cristo.

  1. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado.
  2. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai.
  3. Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai.
  4. Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.

O ignorante é desculpável pelos seus erros. Não costumamos brigar com uma criança de dois anos por fazer xixi fora do penico. Mas se um adulto fizer xixi fora do penico (ou fora do vaso, no caso dos homens) ele não será desculpado tão facilmente.

Nossa responsabilidade é diretamente proporcional ao nosso conhecimento. Quanto mais conhecemos, mais responsáveis somos pelos nossos pensamentos, palavras e ações. Por isso o caminho da espiritualização é um caminho sem volta. Depois que conhecemos a realidade espiritual não podemos alegar ignorância.

Deus age sobre os espíritos através dos espíritos. Quem se opõe à manifestação de Deus através de alguém, encarnado ou desencarnado, está se opondo ao próprio Deus.

  1. Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.
  2. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio.

Não concordamos com a pontuação dada a estes dois versículos. Lembramos que os manuscritos originais gregos não têm sinais de pontuação. A conjunção subordinativa hoti (oτι), que aqui está traduzido como “pois” é melhor traduzido aqui como “que”; e lembramos também que “ser” e “estar”, no grego, são o mesmo verbo. A melhor tradução então é:

“Quando vier o parakletos que eu vos enviarei da parte do Pai, o espírito de verdade, aquele que procede da parte do Pai, testificará acerca de mim e vós testificareis que sois comigo desde o princípio”.

O parakletos é o Espiritismo, que veio nos revelar o que não estávamos prontos para compreender quando Jesus esteve encarnado entre nós. Quando chegasse o parakletos (que já chegou), o Espírito de Verdade testificaria de Jesus (como de fato testificou), nos apresentando o Cristianismo redivivo, livre de dogmas e teologias dos homens. E nós, esclarecidos pelo conhecimento da realidade espiritual, testificamos que somos com o Cristo desde o princípio – desde o “princípio de todas as coisas”, a “causa primária de todas as coisas”: Deus.

O Cristo é a manifestação de Deus no mundo sensível, e nós somos com o Cristo, somos da sua natureza – nossa natureza é divina.

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