Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Jesus, o príncipe deste mundo

Pessoas acostumadas com a ideia do diabo acreditam que o “príncipe deste mundo”, mencionado por Jesus no Evangelho de João, seja o diabo. Como não admitem a responsabilidade humana sobre o mal, concluem que, se o mundo está como está, deve ser culpa do diabo. E, para o diabo conseguir fazer tudo o que faz, deve ser o príncipe deste mundo. Mas, após uma meticulosa análise do texto original grego, chegamos à conclusão irretorquível de que o príncipe deste mundo é o próprio Jesus. 

Este é o 28º vídeo desta série de estudos sobre o Evangelho de João. Foram analisadas, para o estudo deste vídeo, mais de 20 traduções do Evangelho, inclusive em outros idiomas, além do texto original grego.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 14:28-31

  1. Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.
  2. Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.
  3. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;
  4. Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.

Jesus repete que vai voltar: “vou e venho em direção a vós”. E Jesus faz questão de deixar registrada a sua promessa, para que quando ela se cumprir nós sejamos capazes de reconhecê-lo. E, de fato, nós já o reconhecemos.

“Já não falarei muito” é a tradução de ουκ ετι πολλα λαλησω. Há duas possibilidades de se traduzir ουκ ετι. Os manuscritos gregos não tinham sinais de pontuação e não tinham espaços entre as palavras, então ουκ ετι pode ser lido como uma palavra só (ουκετι) significando “não mais”, “já não mais”, e ουκ ετι também pode ser lido como sendo duas palavras – ουκ, que quer dizer “não”, e ετι, que quer dizer “ainda”. Neste último caso, a tradução seria “ainda não falarei muito convosco”, ou “ainda não falarei muitas coisas convosco” – semelhante ao que Jesus nos diz em 16:12: Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”. Nós preferimos este último sentido, porque está mais de acordo com o contexto geral do Evangelho de João.

“(…) se aproxima o príncipe deste mundo (…)” – já falamos sobre o “príncipe deste mundo” quando comentamos o capítulo 12: Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (João 12:31-32) – agora é a “escolha” deste mundo, não o “juízo”. É a escolha deste mundo e, por causa dessa escolha, será expulso, será “lançado para fora” o príncipe deste mundo.

Aqueles que foram ensinados a acreditar no diabo imaginam que o príncipe deste mundo seja o diabo, e que o diabo esteja sendo expulso. Vimos que “príncipe” é a tradução de archón (αρχων). Archón é quem exerce autoridade, é o chefe, o governador. “Este mundo”, a que Jesus se refere, é a Terra – ou os habitantes da Terra.

Será que o diabo é o Governador da Terra? O diabo não existe.

Em 12:30 Jesus diz que “agora será lançado para fora o príncipe deste mundo” – será expulso. Em 14:30, que nós estamos analisando, está escrito que “se aproxima” o príncipe deste mundo. Essas duas declarações foram dadas por Jesus num curto espaço de tempo. Será que Jesus está confuso ou é a tradução que está confusa? O príncipe deste mundo “será expulso” ou ele “se aproxima”?

Para começar, o príncipe deste mundo (ou melhor, o governador deste mundo), segundo este Evangelho, é Jesus, não o diabo. Fora o fato de o diabo não existir, tanto no capítulo 12 quanto aqui fica claro que Jesus está se referindo a ele mesmo.

Vamos conferir novamente:

“Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”. (João 12:31-32)

Jesus fala que o governador deste mundo será expulso e ele, quando for elevado da Terra, atrairá todos até ele. Está óbvio! Jesus, o Governador da Terra, será expulso por escolha do mundo, por escolha dos homens que compõe o mundo – mas, ao elevar-se da Terra, atrairá todos até ele.

No capítulo 14, que estamos analisando, em momento algum é mencionado diabo, nem direta nem indiretamente.

Esse título αρχων του κοσμου τουτου, ou “governador deste mundo”, é usado novamente em 16:11, onde Jesus fala novamente na vinda do parakletos. E lá o que o texto grego diz é que “o consolador convencerá o mundo a respeito da escolha (ou do discernimento – que traduzem como “juízo”), porque o Governador deste mundo foi escolhido”.

Mas permanece a confusão, que não pode ser de Jesus, então é da tradução.

Nós vimos que há uma contradição entre 12:30, em que Jesus diz que “agora será expulso” o príncipe deste mundo, e em 14:30, onde está escrito que “se aproxima” o príncipe deste mundo. A contradição é apenas aparente.

A expressão “se aproxima” é a tradução do verbo grego erchetai (ερχεται), indicativo presente, na voz média ou passiva depoente, terceira pessoa do singular do verbo erchomai (ερχομαι). Na língua portuguesa nós temos verbos específicos para os sentidos de um movimento: “ir” e “vir” – Ir daqui para lá, vir de lá para cá. No grego é diferente. Existe um verbo para designar movimento, o verbo erchomai, de que nós estamos tratando. Mas erchomai tanto pode significar “ir” como “vir”. Nós concluímos sobre o sentido do movimento ou pela preposição (quando há preposição) ou pelo contexto.

Como não há preposição, temos que nos basear no contexto da frase. E não há nenhum indício – absolutamente nenhum – de que Jesus estivesse tratando de alguém que deveria “vir” – pelo contrário, Jesus está repetidamente dizendo aos seus discípulos que ele “vai”, que ele “está partindo”.

Mesmo que isso não estivesse absolutamente claro bastaria consultar a primeira vez em que Jesus usa esse título “príncipe deste mundo” para percebermos de que sentido se trata. Lá, em 12:30, está claro que o sentido é de ida, não de vinda – pois o príncipe deste mundo será “lançado para fora”, será expulso – ou seja, “irá”, e não “virá”.

Como se deu essa confusão? Vamos rever o versículo 30:

“Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim” – “nada tem em mim”: o problema está aqui. Os tradutores acharam que o verbo echei (εχει), indicativo presente, na voz ativa, terceira pessoa do singular do verbo echo (εχω) que quer dizer “tem” (terceira pessoa do singular do verbo ter), concorda com archón (αρχων), que é traduzido como “príncipe”.

“(…) se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim” – é Jesus quem está falando – se o príncipe não tem nada em Jesus, então o príncipe não é Jesus: foi isso que concluíram.

Acontece que o verbo εχει não está concordando com αρχων – está concordando com κοσμου, que é traduzido como “mundo”.

É “o mundo” que não tem nada em Jesus, e não “o príncipe deste mundo”. O príncipe deste mundo (ou Governador deste mundo) é o próprio Jesus, e o mundo não tem nada em Jesus – ou seja, o mundo não tem nada em comum com Jesus, o mundo não está em comunhão com Jesus.

Em todo este capítulo há a distinção entre os discípulos de Jesus (que estavam com Jesus, que tinham algo em comum com Jesus) e o mundo, que não conhece Jesus e que fez a sua escolha: não aceitou Jesus.

Os tradutores erraram na tradução deste versículo? Isoladamente, não. O verbo εχει tanto pode concordar com αρχων quanto com κοσμου. Tanto αρχων quanto κοσμου são substantivos nominativos masculinos singulares. Temos que lembrar que no grego a ordem das palavras não tem importância para designar a sua função. É a terminação das palavras que demonstra a função que elas exercem.

Temos então que retraduzir os versículos 30 e 31:

“Ainda não falarei muitas coisas convosco, porque vai o governante deste mundo e o mundo não tem nada em mim. Mas para que o mundo conheça que amo ao Pai, e, como o Pai me mandou, assim faço, levantai daqui e vamos!” – “levantai” é a tradução de egeireste (εγειρεσθε), imperativo presente, na voz passiva, segunda pessoa do plural do verbo egeiró (εγειρω) o mesmo verbo que às vezes é traduzido como “ressuscitar”, no sentido de “levantar dos mortos”. 

Para que o mundo conheça que Jesus ama ao Pai e que faz como o Pai o mandou, Jesus convida os discípulos a levantarem-se, a ressuscitarem, renascerem para a verdadeira vida, elevarem-se do mundo.

Alguém poderia estranhar que Jesus se refira a ele mesmo na terceira pessoa, ao falar que “vai o governante deste mundo”. Mas, assim como comentamos há pouco, quando sustentamos que Jesus é o Espírito de Verdade, Jesus muitas vezes referiu-se a si mesmo como “o filho do homem”, na terceira pessoa.

Chama-nos a atenção o fato de que todas as traduções que consultamos mantém a contradição entre 12:30, em que Jesus diz que “agora será expulso o príncipe deste mundo” e 14:30, onde está escrito que “se aproxima o príncipe deste mundo”.

Consultamos mais de vinte traduções, incluindo outros idiomas, e nenhuma anota este fato. Os comentadores dos Evangelhos também silenciam a esse respeito. Até Pastorino, o maior de todos, manteve a versão tradicional nestas passagens.

Para que não fique dúvida de que não há aqui nenhuma referência ao diabo, e que o príncipe do mundo é Jesus, vamos contextualizar essa afirmação de Jesus:

 Jesus diz: “o mundo não tem nada em mim”.

No versículo 17, Jesus diz que “o mundo não pode receber o espírito de verdade porque não o vê nem o conhece” – o espírito de verdade é o próprio Jesus, então o mundo não pode receber (ou “aceitar”) Jesus porque não o vê nem o conhece.

No versículo 22, Judas pergunta a Jesus: “de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?”

No versículo 21 Jesus diz: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama” – quem é que tem e guarda os mandamentos de Jesus? Os seus discípulos! O mundo não tem os mandamentos: “o mundo não tem nada em mim” – foi o que disse Jesus. 

Milhões de pessoas defendem a existência do diabo. Elas não concebem a vida sem o diabo, o mundo sem o diabo. Ficamos imaginando como deve ser infeliz uma vida assim. E lamentamos sinceramente.

E por mais evidências que se mostre de que o diabo não existe, essas pessoas argumentam que é o diabo que faz as pessoas pensarem que ele não existe, que é exatamente isso que o diabo quer, que pensem que ele não existe.

Essas pessoas acreditam que o diabo é o príncipe deste mundo – que nós vivemos num mundo governado pelo diabo.

Que ideia pequena essas pessoas fazem de Deus e de Jesus – que para elas é a mesma coisa. Para elas foi Deus quem fez o mundo, mas quem manda no mundo é o diabo. Felizmente nós sabemos que não é assim.

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