Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Eu sou: o caminho, a verdade e a vida

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” – essa declaração de Jesus faz com que muitos o vejam como uma espécie de megalomaníaco. E, se considerarmos que dois terços da humanidade encarnada é composta por não-cristãos, pode realmente parecer um despropósito considerar essa declaração de Jesus como absoluta, referindo-se exclusivamente a ele.

Nesta série de estudos sobre o Evangelho de João, em que revejo cuidadosamente todo o texto original grego, ofereço outro olhar, mais profundo e coerente, ao ensino de Jesus. Este é o 25º vídeo desta série de estudos.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

JOÃO 14:1-11

  1. Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.

Esse discurso de Jesus e os próximos que o seguem são dirigidos aos seus discípulos. Jesus já se aproxima do final da sua missão no plano físico e já não ensina em público. Jesus prepara os seus discípulos para a sua partida do plano físico, mas o seu ensinamento é eterno.

Não podemos entender as palavras de Jesus como se ele estivesse tratando de questões práticas com o pequeno grupo dos seus discípulos mais próximos. Isso é apequenar a importância do ensino de Jesus. Jesus está tratando aqui, como em todo este Evangelho, da grande trajetória do espírito imortal neste planeta em busca da evolução espiritual e sua consequente religação com Deus.

  1. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.

“Morada” se refere à palavra grega mone (μονη), que quer dizer “permanência” – isso pode ser entendido em vários níveis.

Num nível próximo de nós, isso se refere aos estados da nossa consciência, que nos conduzem, por sintonia vibratória, às cidades ou colônias astrais. Num nível um pouco mais elevado, se refere aos incontáveis mundos habitados, mas isso são apenas consequências do nosso grau de adiantamento espiritual. É o nosso relativo adiantamento que determina o lugar que ocupamos.

A casa do Pai é o Universo infinito – mas a casa do Pai também é dentro de cada um de nós. Em 1:14 é dito que Deus ergueu tabernáculo em nós (ou construiu tenda em nós). O espírito é casa de Deus. E nesta casa há muitas moradas, muitas permanências, vários estágios de permanência de Deus.

Quem nos prepara lugar é o Cristo, o nosso Cristo interno, a partícula de Deus em nós. Conforme o Cristo se desenvolve em nós, mais nos tornamos receptivos a Deus, ampliamos a “permanência de Deus em nós”.

  1. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.

Na verdade não é quando eu for, mas se eu for – é o que consta nos textos gregos que conferimos. Este versículo merece ser todo ele retraduzido:

“E se eu vou e vos preparo lugar, venho novamente e vos recolho em direção a mim mesmo, para que onde eu sou, também vós sejais”.

“Ser” e “estar” são o mesmo verbo. “Eu sou” é a descrição que Deus fez de si mesmo (Êxodo 3:14); “eu sou” é a nossa consciência, é o saber que existimos, que somos.

Esse “lugar” que o Cristo prepara não é um lugar geográfico, espacial – é a nossa comunhão com o Cristo. O Cristo é a manifestação de Deus no mundo sensível. Unir-se com o Cristo que está dentro de nós é unir-se com Deus.

Para que onde “Eu sou” (“Eu sou” é Deus), nós sejamos – ou seja, que estejamos sempre em Deus e Deus em nós.

  1. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.

Literalmente: “E onde eu vou sabeis e o caminho sabeis” – não se fala em conhecer. Geralmente traduzem oida (οιδα) como “conhecer”, mas o “conhecimento”, na Bíblia (que em grego é “gnose”), é muito mais íntimo e profundo do que apenas saber visualmente, que é o sentido de oida.

Oida originalmente se referia a “ver”. Então a pessoa sabe porque viu na sua mente, ou seja, “vislumbrou” ou “imaginou”, mas isso não é gnose, isso não é o conhecimento profundo e íntimo.

Nós vislumbramos para onde vai o Cristo e nós vislumbramos ou imaginamos o caminho. Se “conhecêssemos” o caminho já estaríamos na intimidade do caminho, estaríamos integrados ou nos integrando a ele.

No Gênesis, quando Adão manteve relações sexuais com Eva, é dito que Adão “conheceu” Eva (Gênesis 4:1). Adão, o pólo masculino do espírito, integrou-se ao pólo feminino do espírito – é neste sentido que Adão conheceu Eva. Um conhecimento profundo. Íntimo. Esse é o sentido de “conhecer” na Bíblia. Não podemos imaginar Adão conhecendo Eva no sentido que damos a essa palavra hoje: – “Prazer, Adão. Você vem sempre aqui?”

  1. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?

Tomé entrou para o imaginário popular como um símbolo de incredulidade, mas essa imagem é equivocada. Tomé é o exemplo da fé raciocinada. Não se perdia em divagações, queria certezas.

  1. Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

Essa declaração é causa do afastamento de milhões de pessoas não-cristãs em relação ao Cristianismo. Dois terços da população mundial é de não-cristãos. Essa declaração também afastou muitos ex-cristãos do Cristianismo.

Se considerarmos essa declaração como feita pelo homem Jesus ela é pretensiosa e absurda. Isso seria relegar dois terços da humanidade à perdição, já que não seguem Jesus. Já comentamos sobre este pensamento, e ele é tão primário e horroroso que não vale a pena voltar a ele.

Não é Jesus que é o caminho, a verdade e a vida – o caminho, a verdade e a vida é o Cristo. E o Cristo está em cada um de nós, independentemente de religião ou não-religião. Religião, em termos de instituição, é um processinho transitório típico de seres não evoluídos como nós.

Vamos sair por um instante da casca do nosso ego e vamos olhar para mais longe. O Universo é infinito. A creação de Deus é infinita e incessante, Deus está permanentemente creando. Os mundos habitados são infinitos. “Há muitas moradas na casa de meu Pai”.

Qual é a importância que tem o Cristianismo como instituição ou Jesus como homem se lançarmos o nosso olhar para o Universo? Neste Evangelho, Jesus se diz o Governador do mundo (e não há problema em acreditar nisso), mas qual é a importância desse grão de poeira chamado planeta Terra perante o Universo infinito?

Achar que Jesus impôs que o único caminho seja ele é fazer de Jesus um homem vaidoso e mentiroso. O Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Todos temos o Cristo dentro de nós.

Este é o sexto “Eu sou” de Jesus. Precisamos entender essas declarações na primeira pessoa do singular como características da nossa verdadeira natureza de filhos de Deus creados à imagem e semelhança de Deus, portanto, perfectíveis.

Desde que adquirimos consciência de nós mesmos, desde que percebemos que existimos, nos debatemos entre o Eu e o ego, a individualidade divina e a personagem transitória. Tudo o que se refere à matéria, aos prazeres, sensações, emoções e ilusões da matéria é passageiro, é perecível, é anti-divino, é o que nos separa e impede o retorno à nossa verdadeira natureza, é o nosso adversário interno, o opositor, o antagonista, que chamam de satanás ou diabo.

Ao longo de inúmeras reencarnações vamos vencendo, pouco a pouco, essas imperfeições que nos afastam do nosso Eu verdadeiro, vamos nos afastando da matéria e nos espiritualizando, nos religando com Deus – do latim religare, de onde vem a palavra “religião”.

Para isso reencarnamos. Para consolidar nossas experiências é necessário mergulhar na matéria muitas vezes. Em uma existência não dá tempo de aprender e fazer quase nada. No capítulo 12 vimos que Jesus conversa com os gregos a respeito da chamada ressurreição de Lázaro – que na verdade foi um ritual semelhante aos mistérios de Elêusis praticados pelos gregos. Neste sentido Jesus diz: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto” (12:24).

Um grão de trigo é uma coisa minúscula e aparentemente insignificante, mas carrega dentro de si uma potencialidade incalculável. De um grão de trigo são produzidos muitos outros grãos, e se forem sucessivamente plantados, em pouco tempo se tem uma plantação capaz de alimentar uma cidade.

Uma vasta plantação, sua palha, suas sementes, o trabalho das pessoas envolvidas em seu cultivo, o pão produzido pelo trigo, tudo pode ser fruto de um único grão de trigo. Mas para que isso tudo ocorra é necessário que o grão de trigo morra. É preciso viver para morrer, é preciso mergulhar na terra para produzir frutos na luz, pois sem a luz do Sol a semente não se desenvolve.

Este também é o simbolismo mais profundo do batismo. “Batismo” quer dizer “mergulho” – a água simboliza a matéria. É preciso mergulhar na matéria para fazer a conversão a Deus. Jesus nos ensinou isso. Não só ensinou como viveu isso e vive ainda hoje. Hoje, neste momento, você está contemplando a fecundidade de uma vida doada, de uma vida fecunda a partir do seu mergulho na matéria, da sua morte na matéria.

A vida de Jesus, o seu mergulho na matéria, gera frutos até hoje, e este trabalho que você está lendo é prova disso. Jesus é nosso irmão mais velho, iniciou a sua caminhada muito antes de nós. Nós ainda somos mais ego do que Eu, ainda somos mais personagem do que individualidade divina. Nosso esforço deve ser no sentido de nos despojarmos cada vez mais das imperfeições que nos prendem à matéria e desenvolvermos o nosso verdadeiro Eu.

“O Eu é o caminho, a verdade e a vida” – o texto grego não tem sinais de pontuação. É possível imaginarmos dois pontos depois de “Eu sou” e lermos assim: “Eu sou: o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão pelo Eu verdadeiro” – que é a nossa individualidade divina, pois é isso que somos verdadeiramente: partículas individualizadas de Deus.

Na oração que Jesus nos ensinou nós dizemos: “Pai Nosso, que estás nos céus” (Mateus 6:9) – o Pai é nosso, então nós somos os filhos. Essa é uma visão antropomórfica, uma visão para facilitar o entendimento dos homens.

O filho é o produto do pai, é a criação do pai. Nós somos produtos de Deus, somos creação de Deus. Deus não é pai da nossa personalidade atual. Temos um pai e uma mãe que nos proporcionaram esta atual existência em que desempenhamos esta personagem. Mas Deus é o nosso Pai espiritual. Deus é o Pai do nosso Eu verdadeiro – e é através do Eu que nós vamos ao Pai.

“O caminho, e a verdade, e a vida” – a vida é o Cristo. O Cristo é a vida, pois o Cristo é a manifestação de Deus no mundo sensível. Deus existe além do mundo sensível, do mundo perceptível, Deus é transcendente. Mas Deus também é imanente, pois está em tudo. O Deus imanente é o Cristo, é Deus manifestado.

“(…) Eu sou o caminho, e a verdade e a vida (…)” – “verdade” é a tradução da palavra grega alétheia (αληθεια), que como já vimos, é composta pelo prefixo a com o sentido de negação, e a palavra léthe, que quer dizer “esquecimento”. Da palavra grega léthe é formada a palavra “letargia” (léthe + orge), que é um estado mórbido com a aparência de morte. Então alétheia é o despertamento, o desvelamento do que estava esquecido – é despertar da letargia, sair do torpor da letargia, deixar o estado de morte aparente do espírito e despertar para a verdadeira vida.

“(…) Eu sou o caminho, e a verdade e a vida (…)” – o “caminho” é o caminho reto das Leis de Deus que estão gravadas em nossa consciência. O ensino de Jesus é o caminho reto das Leis de Deus.

O caminho, a verdade e a vida são três níveis, três estágios do Eu verdadeiro – o caminho que leva à verdade que leva à vida. 

O caminho reto das Leis de Deus ensinado por Jesus nos leva à verdade, ou seja, ao desvelamento, nos leva a tirar o véu do esquecimento da nossa verdadeira natureza divina.

A verdade, essa descoberta de nós mesmos (descoberta: tirar o véu do que estava coberto) nos leva à verdadeira vida, nos leva ao que este Evangelho chama de “vida eterna” – a vida imanente, a vida plena em Deus, a vida plenamente consciente.

  1. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
  2. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.
  3. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
  4. Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.
  5. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.

Agora Jesus fala em “conhecer”, fala na gnose, no conhecimento íntimo e profundo. Jesus diz aos discípulos que eles já têm esse conhecimento, mas Filipe não compreende e Jesus dá uma explicação técnica.

Nos versículos 10 e 11 há a repetição dessa técnica de mentalização: “Eu sou no Pai e o Pai é em mim” – ou simplesmente: “Eu no Pai e o Pai em mim”.

Essa mentalização visa buscar a harmonia com Deus – a nossa sintonia, como receptores, com Deus, o emissor. As emissoras de rádio e televisão estão permanentemente emitindo um sinal. Se nós quisermos sintonizar com determinada emissora precisamos ajustar o nosso rádio ou televisão, o nosso aparelho receptor.

Vamos retraduzir estes versículos 10 e 11. Mas antes temos que lembrar novamente que no texto original grego não há sinais de pontuação. No versículo 9, portanto, a melhor leitura é: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe” – sem o ponto de interrogação. Jesus está afirmando, não perguntando.

“Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe. Não sintonizas ‘Eu sou no Pai e o Pai é em mim’. As palavras que vos falo não vos falo de mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim (ou “mora” em mim), Ele faz as obras (ou trabalhos, ou ações). Sintonizais em mim (ou melhor, “sintonizais no Eu”): ‘Eu no Pai e o Pai em mim’. Ou, se não, sintonizais em mim pelas obras (ou através das obras, das realizações, dos trabalhos, das ações)”.

Jesus nos ensina a mentalização ou meditação como meio de sintonizar com Deus. Se não conseguirmos alcançar essa sintonia pelo pensamento, devemos buscar a sintonia com o Cristo através da ação, do trabalho. Ergon (εργον), que normalmente é traduzido como “obras” quer dizer isso: “ação”, “trabalho”, “realização”.

Ainda precisamos da ação, e é por isso que reencarnamos. Alguns poucos conseguem a sintonia com o seu Cristo interno através da mentalização, da meditação. Mas a ação ainda é importante. Trabalhando em benefício do próximo estamos educando a nossa mente a vibrar em ressonância com o Cristo.

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