Estudo do Evangelho em vídeo, Vídeo

Jesus foi tentado pelo diabo?

Você acredita que Jesus foi tentado pela diabo? Será que um espírito evoluído como Jesus pode ser tentado? O diabo que tentou Jesus é um ser ou é a representação do mal? Neste vídeo, que é o 5° de uma série de 30 vídeos em que analiso e interpreto o Evangelho de Lucas, este e outros temas são abordados. A expulsão de Jesus da sinagoga e a cura de um possesso são outros assuntos que fazem parte deste estudo.

Abaixo você pode ler todo o texto do vídeo.

CAPÍTULO 4

1. E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto;
2. E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
3. E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.
4. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.
5. E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.
9. Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10. Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
11. E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
12. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
13. E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.

Alguns espíritas não aceitam que Jesus tenha sido tentado. Alegam que Jesus é superior demais para ser tentado. Então dizem que Jesus foi provado. Essa diferença de palavras fundamentalmente não altera nada.

“Jesus, cheio do Espírito Santo…”Aqui novamente não há artigo antes de “espírito santo”, então a tradução correta é “um” espírito santo, e não “o” espírito santo.

O Espírito Santo, como uma das três pessoas da Santíssima Trindade, foi uma invenção dos teólogos que passou a vigorar a partir do 1° Concílio de Constantinopla, no ano 381.

Jesus estava cheio de um espírito santo, ou seja, estava sob a influência ou na companhia de um espírito santo, de um espírito dedicado a Deus.

Talvez a maior parte dos espíritas imagine que não possa ter havido influência de qualquer espírito sobre Jesus, sendo ele, segundo a crença espírita, o Governador da Terra. Aqui eu digo crença espírita porque o Espiritismo também é crença. É ciência, é filosofia, é religião, mas também é crença.

Quem garante que Jesus é o Governador da Terra? O que importa, é claro, é o seu ensino; mas o que temos, sobre o papel ou a natureza de Jesus, são opiniões.

As religiões cristãs tradicionais o têm como Deus. Nós não podemos conceber essa ideia porque ele não nos disse que era Deus, pelo contrário, sempre se referiu a Deus como não sendo ele, o que é lógico. Acreditamos que Jesus contasse com o auxílio de grande número de espíritos evoluídos, ou espíritos santos, que o auxiliariam na sua tarefa.

Não deve ter sido sem motivo que ele se comunicou com os espíritos de Elias e Moisés no monte Tabor. E é possível, ou até provável, que um ou mais espíritos superiores a Jesus, espíritos não pertencentes à Terra, vieram em seu apoio enquanto ele esteve encarnado. Jesus é o espírito mais elevado da Terra, provavelmente é quem superintende a evolução da Terra desde o seu princípio.

***

Jesus foi conduzido ou acompanhado por um espírito ao deserto. Ninguém sabe que deserto é esse. Há conjecturas. Mas o que nos importa aqui não é a geografia.

Jesus foi guiado por este espírito durante 40 dias no deserto, sendo tentado pelo diabo. Diabo é uma palavra grega, diabolos. É um adjetivo, não é um substantivo; ou seja, é uma qualidade, não é um ser.

Essa palavra deve ser entendida como “aquele que desune”, “aquele que separa”, o opositor, o adversário. A palavra hebraica satanás, que tem o mesmo sentido, é algumas vezes traduzida como diabo.

Então diabo ou satanás não são seres, são qualidades. Diabo ou satanás é o que separa o homem da sua origem divina, é o que forma o antagonismo entre o corpo e o espírito, é o que contrapõe a matéria em relação ao espírito, é o apego à materialidade em oposição às coisas de Deus.

É ridículo pensar que Jesus, o espírito mais elevado que há na Terra, que muitos consideram Deus, seria tentado por um ser, qualquer que seja este ser. Este ser, naturalmente, teria sido creado por Deus, pois tudo o que existe foi creado por Deus. Se Jesus fosse Deus e o diabo fosse um ser, o Creador seria tentado pela própria creatura!

A tentação ou provação de Jesus foram pensamentos que surgiram em meio a profundas meditações e à preparação para o começo da sua missão.

Jesus acaba de ser batizado (ou mergulhado) por João Batista, e deve começar em seguida a sua missão como encarnado. Quais foram as tentações de Jesus?

O texto diz que Jesus ficou 40 dias sem comer e que depois teve fome, então foi tentado a transformar pedra em pão; depois foi tentado a ter todo o poder e a glória sobre todos os reinos do mundo; e, por último, foi tentado a se atirar de cima do pináculo do templo.

O que representam essas três tentações? São as tentações do egoísmo, do orgulho e da vaidade.

O egoísmo de transformar pedra em pão, visando à saciedade dos desejos; o orgulho do poder e da glória, de estar acima de tudo e de todos, de ser rico e famoso; a vaidade de se atirar de cima de uma grande altura achando que nada lhe aconteceria, de se achar invencível, capaz de qualquer proeza.

É claro que Jesus não chegou a desenvolver estes pensamentos. Isso fica evidente nas respostas que ele elaborou para essas tentações, retiradas do Antigo Testamento. Foram apenas constatações que passaram pela sua cabeça enquanto meditava e se preparava para o início da sua atividade.

Se não havia ninguém com Jesus no deserto, foi o próprio Jesus quem contou esse episódio para alguém. Para um ou mais dos apóstolos, provavelmente. Por que ele contou? Para que ficasse registrado. Tudo o que ficou registrado sobre as palavras e os atos de Jesus contém ensinamentos que foram cuidadosamente elaborados por ele.

Se você é cristão, de qualquer denominação religiosa, você há de convir que tudo na vida de Jesus, todos os seus passos, foram cuidadosamente calculados. A evolução na Terra é um projeto de longo prazo. A vinda de Jesus foi planejada durante séculos. Foram reunidos os espíritos certos nos momentos certos nos lugares certos.

Se Jesus pregou durante três anos, ele deve ter feito muita coisa, deve ter dito muita coisa, muito mais do que está registrado. Mas o que ficou registrado faz parte de um planejamento milenar, de um planejamento cósmico, onde todas as peças deveriam ser cuidadosamente encaixadas para que o seu ensino atravessasse os séculos.

A linguagem aparentemente obscura e os fatos aparentemente sem lógica guardam ensinamentos profundos.

Nós vimos que João Batista mergulhava as pessoas numa reforma mental ou conscientização para o resgate dos próprios erros, para o resgate espontâneo do carma. Jesus acabara de ser mergulhado por João Batista e foi para o deserto ser tentado pelo diabo.

É fácil perceber o ensinamento. Quando o espírito encarnado mergulha dentro de si mesmo, em busca da sua origem espiritual, ele se decide pela reforma mental, pela conscientização e consequente mudança do padrão dos pensamentos, e se propõe a resgatar os próprios erros, a deixar para trás o passado de erros e se rearmonizar com a Lei de causa e efeito.

Então ele é conduzido por um espírito santo, por um espírito dedicado a Deus ao deserto, ao vazio, à região desabitada da sua mente, pois a sua mente está em reforma, ele está abandonando o homem velho para assumir o homem novo, ele deixou os antigos hábitos mas ainda não experimentou os novos hábitos, ele está num vazio, num deserto, e então se depara com a tentação de satanás, que é o apelo material, é a atratividade das coisas materiais, é a luta, a oposição entre a matéria e o espírito.

Ele é tentado no egoísmo, no orgulho e na vaidade, e deve vencer essas tentações (ou provações) embasado nas leis de Deus para ficar apto a começar a sua caminhada de homem novo.

14. Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor.
15. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.
16. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
17. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
18. O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração,
19. A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor.
20. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.
22. E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?
23. E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
24. E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.

 Depois de já haver começado a ensinar, já sendo conhecido, Jesus vai um dia para Nazaré, a sua cidade, e num sábado visita a sinagoga.

O sábado era o dia dedicado a Deus, então era o dia em que a sinagoga se enchia de gente. Para quem não sabe, sinagoga é o local de culto dos judeus. Entregaram a Jesus um texto para ler. Era o livro de Isaías, que hoje é um dos livros que compõe a Bíblia. Estava escrito assim:

“O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”.

 Isaías começa dizendo, neste texto, que um espírito do Senhor está sobre ele, ou seja, ele está sob a influência de um espírito, de um espírito de Deus, de um espírito bom. Escreve sob a influência de um espírito, o que hoje chamamos de psicografia. Este texto que Jesus leu está no livro de Isaías 61: 1-2 e 58:6. É uma mistura destas duas passagens.

“… um espírito do senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres…” – Ungir é derramar azeite, aplicar azeite. Costumavam derramar azeite sobre aqueles que eram consagrados a Deus. Temos que lembrar que estamos tratando de costumes de milênios atrás, e o azeite representava pureza. A palavra “cristo” quer dizer “ungido”. Cristo, messias e ungido são a mesma coisa. Cristo é o ungido de Deus, o consagrado a Deus, ou, no sentido mais profundo, aquele espírito que está permeado de Deus, embebido de Deus.

Assim como o azeite permeia, penetra, embebe, assim o espírito cristificado é permeado por Deus.

“… ungiu para evangelizar os pobres”. – Evangelho quer dizer boa nova, novidade boa, boa notícia, então se refere às boas notícias que serão levadas aos pobres. Não podemos cair no erro de achar que os pobres são privilegiados e que Deus tem preferência pelos pobres. Se Deus tivesse preferência por alguém estaria sendo imparcial e, então, não seria Deus. Se Deus gostasse da pobreza o Universo não seria rico e abundante.

Vamos conferir no texto de Isaias 58:7, a continuação do versículo 58:6 citado por Jesus, para entendermos o conceito de pobre usado aqui:

“Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?”

Repartir o pão com o faminto, recolher em casa o pobre abandonado, cobrir o nu. Quem passa fome, está abandonado e sem roupa não é qualquer pobre, é um mendigo, é um pedinte, é alguém que pede ajuda. Levar boa notícia aos pobres, então, é levar boas notícias aos pedintes, aos que estão mendigando. Isso se refere às coisas do espírito. Por isso Jesus, ao terminar a leitura do texto, disse: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.

Ele disse aos que estavam presentes na sinagoga, ouvindo, que isso que estava escrito no livro de Isaías se cumpria nele, na missão dele. Então é evidente que se trata de coisas do espírito.

Levar boas notícias aos pobres pelo espírito, aos pedintes espirituais, aos que estão mendigando as coisas do espírito, levar o alívio para a sua fome de justiça, de ajustamento com as Leis de Deus; recolher em casa os pobres abandonados, receber no próprio lar os espíritos desencarnados necessitando reencarnar, “cobrindo o nu”, ou seja, proporcionando o alívio para os que estavam nus, sem vestes, sem uma vestimenta carnal, esperando há séculos por uma oportunidade de reencarnar e colocar em prática suas novas resoluções.

Libertar os cativos, os que estão presos aos erros cometidos no passado e às suas crenças escravizantes; restaurar a vista aos cegos, aos que já estejam aptos a enxergarem a realidade espiritual depois de milênios de cegueira materialista; pôr em liberdade os oprimidos, os que sofrem por terem ficado por muito tempo oprimidos pela culpa, pelo remorso, que já esgotaram o seu carma mas ainda não conseguiram sair da inércia mental; e apregoar o ano aceitável do Senhor, ou seja, mostrar aos espíritos encarnados e desencarnados que habitam a Terra que o tempo de libertação a partir do esclarecimento já chegou, que depende de cada um evoluir a partir de um mergulho dentro de si mesmo e da reforma mental, da conscientização.

Muitos podem estranhar o fato de Jesus anunciar tudo isso há dois mil anos e até agora a humanidade viver tantos conflitos. Não precisamos citar os avanços da humanidade de lá para cá. Basta observar a História. Um passeio pelo Antigo Testamento, uma olhada rápida pela Bíblia mostra o quanto evoluímos, o quanto a nossa mentalidade mudou, o quanto os nossos costumes mudaram.

Mas nem precisamos ir tão longe. O maior organizador do Cristianismo, que foi Paulo, dizia que as mulheres deviam permanecer em silêncio na igreja, pois era vergonhoso que as mulheres falassem na igreja. Se quisessem saber alguma coisa teriam que perguntar aos seus maridos em casa (1 Coríntios 14:34-35). Isso que Paulo era um grande intelectual.

Desde o tempo de Jesus muitos espíritos já se libertaram da matéria – a liberdade aos cativos também se refere a isso -, muitos espíritos se libertaram da prisão da carne a partir de Jesus, não precisando mais reencarnar.

Muitos que aqui haviam sido exilados voltaram aos seus planetas de origem, e muitos dos que conviveram com Jesus, que recusaram o seu ensinamento, estão aqui, humildes, pregando o Evangelho.

Dois mil anos, em termos cósmicos, é uma fração de segundo. A Terra tem 4,5 bilhões de anos. A pressa é nossa. Deus não tem pressa.

***

 Então Jesus leu esta passagem de Isaías e disse que essas coisas que estavam ditas no texto de Isaías se cumpriam nele.

As pessoas que estavam na sinagoga ficaram pasmadas com aquilo, porque, afinal de contas, conheciam Jesus desde pequeno, sabiam que ele era o filho do carpinteiro José. Uma cidade pequena, na verdade um povoado, como devia ser Nazaré, que até hoje ninguém sabe exatamente onde era, provavelmente só tinha um carpinteiro, e José, o pai de Jesus, era o carpinteiro. Então aquelas pessoas estranharam muito que o filho do carpinteiro falasse daquela forma.

Jesus já havia começado a sua pregação, já havia promovido curas em Cafarnaum, já havia passado por Jerusalém, e a sua fama havia chegado até a sua cidade, Nazaré. Jesus sabe que eles esperavam que ele fizesse em Nazaré o mesmo que tinha feito em outras cidades. Jesus diz a eles que “nenhum profeta é bem recebido na sua pátria”.

Essa é uma verdade fácil de constatar. Geralmente as pessoas espiritualmente elevadas, que são respeitadas, admiradas e queridas por muitos, passam entre os seus familiares, entre os seus próximos, como se fossem pessoas excêntricas, diferentes, malucas.

25. Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;
26. E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva.
27. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.
28. E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
29. E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.
30. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.

Jesus citou dois exemplos do Velho Testamento, acontecidos com Elias e Eliseu, de auxílio e cura que foram realizados a estranhos em detrimento dos mais próximos.

É que os mais próximos, por estarem acostumados com a pessoa, dificilmente conseguem desenvolver a confiança necessária, não têm a sua fé despertada. A proximidade ativa o julgamento, ativa a mente crítica, as comparações, o despeito e a inveja.

Já uma pessoa mais distante, de quem apenas ouvimos falar, com quem não temos nenhum envolvimento, pode despertar a nossa confiança e nos encontrar receptivos.

Nas passagens dos evangelhos de Mateus e Marcos que narram esta visita de Jesus à sua cidade, é dito que Jesus não pode realizar ali nenhuma grande obra por que eles não tinham fé.

Fica evidente que é preciso a conjunção de dois fatores para haver a cura espiritual ou a mudança no padrão de pensamentos: O poder curador por parte de quem age e a receptividade por parte de quem sofre a ação.

A parte ativa é o poder, a parte passiva é a receptividade. O que provoca esta receptividade é a fé. Nem mesmo Jesus tem poder de curar o espírito se o espírito não tem fé, se ele é incrédulo e endurecido.

O que nós depreendemos desta lição que Jesus nos deixou? Jesus nos diz, em Lucas 17:21, que o reino dos céus está dentro de nós. Também disse, mesmo que de modo indireto, em João 10:34, que nós somos deuses, e, em João 14:12, que nós poderemos fazer tudo o que ele faz e até mais.

Nós somos creação de Deus, somos parte de Deus, temos Deus dentro de nós. Jesus desenvolveu completamente o seu Cristo interno, o Deus que habita dentro de cada um de nós. Por isso ele diz, em João 10:30, que ele é um com o pai, porque ele superou completamente o personalismo, superou completamente o ego humano e passou a ser pura manifestação de Deus.

Todos somos espíritos creados puros e ignorantes. Mas cada um de nós tem a essência divina, todos tendemos à perfeição, todos vamos desenvolver um dia as qualidades do Cristo. Nós temos as qualidades do Cristo em essência.

Mas também temos, temporariamente, em nosso estágio evolutivo, a atração pela matéria, o personalismo, o egoísmo, que é o adversário interno, é o opositor das coisas do espírito.

Assim como o céu e o inferno são creações nossas, nós temos a potencialidade crística dentro de nós e temos, temporariamente, o apelo à materialidade, o ego, que na Bíblia é chamado de satanás ou diabo.

Nós vimos que Jesus volta para a sua terra, é admirado pelos seus, mas não consegue promover nenhuma cura pela incredulidade deles.

No final, é expulso da cidade por eles, e eles tentam jogá-lo de cima de um monte, tamanho é o seu despeito. Mas ele passa por eles e eles não fazem nada.

A lição é que depois de ter começado a desenvolver a potencialidade crística, depois de mergulhar dentro de si mesmo e começar a reforma mental de conscientização, nós seremos confrontados muitas vezes ainda com o ego, com o personalismo.

Quando a nossa essência crística retorna à sua cidade de origem nesta existência, que é o personagem que animamos, este personagem se revolta, não admite que o lado espiritual seja maior que o lado material, não admite e não entende que a essência crística esteja se desenvolvendo e que com isso a personalidade, a personagem que está animando, se torne pequena.

Porque quanto mais se desenvolve o espírito, menos importância tem a personalidade transitória. A cada reencarnação desempenhamos um papel, animamos uma personagem. Acima de todas as personagens transitórias que animamos está a individualidade imortal.

Jesus se desenvolveu a tal ponto que anulou a sua personalidade, já não animava uma personagem. Não era mais um homem como qualquer outro, era pura manifestação de Deus.

Mais tarde, quando Jesus anuncia aos apóstolos o que iria acontecer com ele, que seria maltratado, humilhado e crucificado, Pedro tenta dissuadi-lo, tenta fazer Jesus mudar de ideia, e Jesus diz a Pedro: “Vai para trás de mim, satanás, porque não entende das coisas de Deus, mas só das coisas dos homens” (Mateus 16:23).

Pedro estava preocupado com o homem Jesus. Mas o espírito que se chamou Jesus, que desenvolveu completamente o Cristo dentro de si, pensava no espírito, não na matéria.

Isso mostra que satanás é o nosso inimigo interno, satanás é o apelo à materialidade e ao personalismo, satanás não é um ser. Se você tem medo de satanás, se você foi criado com a ideia de que satanás é um ser, esqueça, liberte-se. Você tem que se cuidar é de você mesmo.

Os conterrâneos de Jesus ficaram tão despeitados que tentaram jogá-lo de cima de um monte. Isso quer dizer que o nosso personalismo fica tão despeitado por estar perdendo importância no mundo – pois quem está em evidência e está se desenvolvendo é o Cristo interno – que tenta derrubar o Cristo, tenta rebaixar o Cristo, tenta baixar a frequência vibratória para se livrar da responsabilidade e dar vazão novamente à materialidade.

Mas a personalidade é transitória, é passageira, e o espírito é imortal. Por isso Jesus passa por entre os seus conterrâneos e eles não conseguem jogá-lo para baixo.

Emmanuel aproveita esta passagem do Evangelho em que encontramos Jesus na sinagoga lendo um livro, como qualquer homem comum, para nos lembrar da importância da leitura edificante.

É através da leitura que nós tomamos contato, quase sempre, com as verdades que já temos capacidade de compreender.

Ainda Emmanuel, a propósito da afirmação de Jesus ao ler o trecho de Isaías, de que “hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos”, nos chama a atenção para aqueles que se aproximam dos círculos religiosos, como nós vemos frequentemente nos centros espíritas, aparentando apenas curiosidade, ou então acompanhando alguém, como se fizessem um favor ou uma gentileza para este alguém.

Na verdade eles são atraídos para estes lugares porque chegou a sua hora de entrar em contato com algumas verdades. Já têm intelecto suficiente para compreender. A partir daí, mesmo não levando a sério o que aprenderam, a sua responsabilidade já é maior, pois já tomaram contato com a verdade e não podem alegar ignorância. Se não souberem aproveitar essas verdades, pior para eles.

31. E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados.
32. E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.
33. E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz,
34. Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus.
35. E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.
36. E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem?
37. E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.

Nós já vimos que Jesus ia até a sinagoga aos sábados para ensinar. Estava ele novamente em Cafarnaum e num sábado, na sinagoga, onde havia um homem “que tinha um espírito de demônio imundo”. Um espírito atrasado, como tantos que se apresentam nas sessões de desobsessão e mesmo em outras práticas religiosas muito populares. Demônio, do grego daimon, era, segundo o historiador Flavio Josefo, contemporâneo de Jesus, como chamavam os “espíritos dos homens perversos”.

Este espírito reconhece a autoridade espiritual de Jesus, se referindo a Jesus como “o santo de Deus”. Jesus repreende o espírito dizendo: “cala-te e sai dele”. Champlin defende que literalmente a ordem “cala-te” seria “amordaça-te”.

Podemos verificar a autoridade e energia de que Jesus se valia para lidar com espíritos endurecidos. É claro que temos que considerar a imensa superioridade de Jesus em relação a nós, mas a maneira como ele se dirigia aos espíritos endurecidos não tinha nada a ver com a condescendência algumas vezes exagerada que se vê em sessões de desobsessão, onde se trata espíritos renitentes no mal como “irmãozinhos sem luz”, como se o simples fato de estar desencarnado merecesse maior consideração.

O homem cai no chão e o espírito deixa ele. O fato do homem cair se deve à separação brusca entre os dois, que deviam estar fluidicamente unidos há muito tempo.

Este episódio nos lembra a firmeza que devemos usar com nossas próprias fraquezas de caráter e tendências inferiores. Depois que reconhecemos o nosso Cristo interno,

ou que pelo menos tomamos conhecimento da sua existência e formamos a resolução de seguir o caminho reto, não podemos ser condescendentes com nossas fraquezas e inferioridades. Assim que elas se manifestarem, devemos amordaçá-las e expulsá-las sem hesitação.

38. Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela.
39. E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.

Jesus muito provavelmente morava na casa de Pedro, em Cafarnaum, e ao voltar da sinagoga encontram a sogra de Pedro com febre. Jesus repreende a febre e a mulher fica boa imediatamente, passando a servi-los.

Nós vemos que Jesus tinha hábitos simples. Seguia a religião do seu povo e cuidava não só dos estranhos, mas também das pessoas mais próximas.

Não há nada de errado no fato de alguém não seguir qualquer religião. Mas é relativamente comum vermos pessoas que desenvolvem a sua espiritualidade, às vezes lidando com a mediunidade e a projeção astral (ou projeção consciente, ou autodesdobramento), e que, com o tempo, tendem a se acharem os donos da razão.

É claro que isso também acontece dentro das religiões. No próprio meio espírita há vários donos da razão. Mas convivendo regularmente com pessoas que têm ideais semelhantes aos nossos é muito mais fácil de perceber os nossos erros a tempo de corrigi-los, nós temos mais parâmetros de conduta, e, principalmente, mais críticos.

Quem faz a sua caminhada isoladamente, fora dos meios religiosos, quase sempre arrebanha um pequeno ou grande grupo de admiradores ou adoradores. Não encontra ninguém que tenha autoridade para contestá-lo, e a tendência é que a vaidade tome conta. Fora a vaidade, há o perigo de enveredar por desvios dos quais obrigatoriamente terá que voltar.

Em nosso estágio evolutivo precisamos uns dos outros, e o meio religioso ainda é o caminho mais seguro, embora longe de ser infalível.

A cura da sogra de Pedro por Jesus nos serve de exemplo para que não deixemos de cuidar do nosso próximo mais próximo, aquele que divide o teto conosco. Não importa a consideração que eles tenham conosco, já que ninguém é profeta em sua terra e em sua casa.

40. E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava.
41. E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
42. E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles.
43. Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado.
44. E pregava nas sinagogas da Galiléia.

 Jesus repreendia os espíritos obsessores que diziam que ele era filho de Deus, ou qualquer coisa neste sentido. Podemos atribuir essa repreensão, que ele fazia muitas vezes, ao segredo de sua missão. Talvez ele não quisesse que tomassem conhecimento da sua missão cedo demais, antes de dar tempo de concluí-la.

Mas o mais provável é que Jesus tenha deixado isso como exemplo para que não fiquemos iludidos com elogios e com títulos elogiosos que recebemos. Às vezes somos chamados de espírito iluminado, sabendo que isso não corresponde à verdade. Então não podemos nos iludir, já que o pouco que somos capazes de fazer o fazemos como manifestação de Deus, e não por nossa própria capacidade.

Todo o Bem é de Deus. Se fazemos algum bem é Deus se manifestando, não é nossa própria pequeneza agindo.

Jesus é o modelo perfeito da manifestação de Deus através de um homem. Jesus anulou a própria personalidade e desenvolveu a sua individualidade divina.

Vemos, no versículo 43, qual é a missão de Jesus: anunciar o Evangelho do reino de Deus: anunciar a boa notícia de que o reino de Deus, que é o nosso próximo estágio evolutivo, está dentro de nós, em estado latente, competindo a nós mesmos desenvolvê-lo. Jesus não encarnou para morrer por nós nem para perdoar pecados. Ele foi enviado por Deus para nos esclarecer quanto à nossa verdadeira natureza espiritual.

***

Depois de promover muitas curas e o afastamento de espíritos obsessores, certo dia Jesus vai para um lugar deserto. Lucas não especifica, mas no Evangelho de Marcos diz que Jesus foi a um lugar deserto para orar.

Ainda em marcos, vemos que Pedro e outros vão até Jesus e dizem que as pessoas o estavam procurando. Em Lucas diz que as multidões “o detinham, para que não se ausentasse deles”.

Mas ele diz que deveria ir para outros lugares, que ele deveria anunciar o Evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso ele foi enviado – se ele foi enviado, alguém enviou, se alguém enviou, não foi ele mesmo, se não foi ele mesmo, ele não é Deus.

Nós vimos e vamos ver várias vezes no Evangelho, que Jesus se retirava para orar. Se Jesus, o espírito mais evoluído da Terra, se retirava para orar, é mais do que lógico que nós precisamos dedicar alguns momentos do nosso dia à oração em recolhimento. Não há desculpa que nos isente deste cuidado.

***

Jesus responde a Pedro que deveria ir pregar o evangelho do reino de Deus em outros lugares, em outras cidades. Hoje nós sabemos da existência de cidades no astral, ou colônias astrais.

Em 1 Pedro 4:6 este mesmo Pedro nos conta que Jesus pregou o Evangelho também aos mortos. Pouco antes, em 3:19, ele diz que Jesus pregou aos espíritos em prisão. Os espíritos em prisão são os espíritos que permanecem psiquicamente presos a regiões que chamamos de “astral inferior”.

Jesus certamente tinha a capacidade de acessar simultaneamente os planos físico e astral. Mas em determinados momentos, em recolhimento ou enquanto o corpo físico dormia, ele devia se projetar no astral para dar continuidade ao seu trabalho lá.

As multidões que procuram Jesus quando Jesus está num lugar deserto para orar também simbolizam a multidão de pensamentos que procuram nossa mente quando nos recolhemos para meditar. Uma multidão de pensamentos sobre o que aconteceu durante o dia, sobre o planejamento metódico para o dia seguinte e inúmeras imagens que tentam passar pela nossa tela mental.

Mas nesses momentos em que estamos recolhidos não devemos atender à multidão dos pensamentos, pois temos que acessar outros lugares, temos que acessar o nosso íntimo, buscar o contato com Deus em nós, o nosso Cristo interno, pois para isso é que nos recolhemos.

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