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Magia negra numa visão espírita

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Feitiço, macumba, magia negra, isso existe?

Existe, sim. E como existe! Há uma tendência no meio espírita de negar a existência da magia. Isso decorre principalmente de dois fatores:

  • Por desconhecimento – e, consequentemente, por não saber lidar com casos de magia – nesse caso é mais fácil negar a sua existência; ou
  • Por má interpretação da Doutrina – a começar por O Livro dos Espíritos.

O Livro dos Espíritos, que é a base da Doutrina Espírita, tem a preocupação de desmistificar toda e qualquer superstição envolvendo o mundo espiritual. E, vendo por esse ângulo, a magia, como uma suposta derrogação de leis naturais, realmente não existe.

Assim como a Doutrina não admite que Jesus tenha feito milagres (e todos os atos realizados por Jesus, por maiores que tenham sido, decorrem de princípios desconhecidos da Lei – mas Jesus não derrogou a Lei), do mesmo modo a magia, como sobrenatural, não existe – a magia é a manipulação mental de forças da Natureza. Se ela parece sobrenatural é apenas porque nós desconhecemos os princípios sobre os quais estão assentados os fundamentos da magia.

É muito comum alguém ler O Livro dos Espíritos e acatar ao pé da letra tudo o que está escrito nele, sem se dar conta de que O Livro dos Espíritos é um livro de síntese, não é um livro de análise – a análise compete a cada um de nós através do estudo. E para fazermos uma análise um pouco mais profunda é preciso realmente estudar, é preciso conhecer, um pouco que seja, do contexto histórico-cultural em que foi produzido O Livro dos Espíritos e quais os objetivos imediatos que nortearam a Codificação.

Na metade do século XIX a Europa – principalmente a França, por influência da Revolução Francesa – começava a se livrar de mais de mil anos de domínio da Igreja. A ciência avançava em todas as áreas do conhecimento. Augusto Comte fundava o Positivismo, que só admite o que pode ser efetivamente provado pela razão.

Se por um lado a decadência do domínio da Igreja permitiu um avassalador avanço da ciência, por outro lado permitiu também que viesse à tona antigos conhecimentos do paganismo, da magia, misturados com muita superstição.

Todos lembram o que acontecia com quem contrariasse a Igreja, pouco tempo antes: por parte da ciência, quem ousasse pensar diferente, como Giordano Bruno, era condenado à fogueira (o que quase aconteceu, também, com Galileu Galilei); e por parte do paganismo e da magia do mesmo modo: quem era descoberto era sumariamente condenado à fogueira.

No tempo de Allan Kardec, então, havia um florescimento da ciência, mas também estava na moda, na alta sociedade parisiense, os assuntos ligados à magia.

Eliphas Levi – apenas para pegar um nome dos mais conhecidos da magia no século XIX – era contemporâneo de Allan Kardec, inclusive fez uma dura crítica a O Livro dos Espíritos. E embora Eliphas Levi seja considerado uma autoridade em magia, a sua obra deixa ver que ainda havia muita superstição e desconhecimento de princípios básicos da realidade espiritual.

Aqueles espíritos que negam a existência da magia se baseiam em algumas questões trazidas à tona por O Livro dos Espíritos – embora não tratem especificamente da magia.

  •  Questão 549) Allan Kardec pergunta:  – Algo de verdade haverá nos pactos com os maus espíritos?

A resposta começa dizendo categoricamente: – “Não, não há pactos”.

Mas, no final da resposta, está escrito assim: – ”Aquele que tenta praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em seu auxílio os maus espíritos, aos quais fica, então, obrigado a servir porque dele também precisam esses espíritos para o mal que queiram fazer. Nisto apenas é que se consiste o pacto.”

Mas é exatamente assim que nós entendemos o pacto, hoje. Acontece que na época o entendimento de um pacto era algo mais radical, algo mais definitivo, a exemplo do Fausto, de Goethe, que faz um pacto com Mefistófeles.

E logo adiante, na questão 550, nós vemos uma explicação mais detalhada do que seja esse pacto:

  • Questão 550) – ”Aquele que chama em seu auxílio os espíritos, para deles obter riquezas, ou qualquer outro favor, rebela-se contra a Providência. Estabelece-se, assim, tacitamente, entre estes e o delinquente, um pacto que o leva a sua perda.”

Embora os pactos com os maus espíritos, ou com os espíritos inferiores não sejam exatamente magia (magia é essencialmente ação mental), eles são um dos instrumentos utilizados pela magia.

A questão 551 também pode dar a entender que não existe o poder de um espírito sobre outro:

  • Questão 551) – Pode, um homem mau, com o auxílio de um mau espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?

A resposta diz apenas : – ”Não; Deus não o permitiria.”

Mas nós vemos uma resposta mais completa e mais elaborada na questão 557.

Questão 557) ‘Podem a bênção e a maldição atrair o bem e o mal para aquele sobre quem são lançadas?

A resposta começa dizendo: – “Deus não escuta a maldição injusta, e culpado perante ela se torna quem a profere.”

”Deus não escuta a maldição injusta” – aqui nós temos que lembrar o conceito de Deus trabalhado em O Livro dos Espíritos. Logo na primeira questão de O Livro dos Espíritos vem a pergunta: – ”que é Deus?” – e a resposta todos sabem: “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.

Essa causa é a Lei. O modo que nós temos hoje, em nosso estágio evolutivo, de entender a causa primária, é a Lei. Deus é a Lei. A causa primária de tudo é uma Lei, Deus é a Lei.

Então, quando O Livro dos Espíritos se refere a Deus nós temos que ter em mente a Lei.

A resposta à questão 557 diz que “Deus não escuta a maldição injusta”, ou seja, a Lei não permite que uma maldição injusta tenha acesso até o seu alvo. Se uma pessoa for suficientemente elevada, mantendo-se permanentemente em alta vibração, certamente não haverá maldição capaz de ter acesso a ela. Mas como isso ainda é uma situação muito rara em nosso planeta, quase todos nós estamos suscetíveis à ação mental de espíritos encarnados e desencarnados sobre nós.

É por isso que nós temos que ter sempre em mente a recomendação de Jesus: “orai e vigiai”. Orar para manter-se elevado, e vigiar os próprios pensamentos e sentimentos para não dar guarida a possíveis más intenções sobre nós.

  • Questão 552) (Essa já explica melhor): Que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas teriam, de enfeitiçar?

– “Algumas pessoas dispõem de grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros espíritos maus”.

Essa força magnética de que se fala aqui é a força mental. A força mental age sobre o fluido cósmico universal, gera campos magnéticos e estes atuam sobre as forças da Natureza. E aqui nós temos que entender que há espíritos em nosso planeta, encarnados e desencarnados, que desenvolveram um forte poder mental, algo que muitos de nós não consegue sequer conceber -mas isso está dentro da Lei, cada um de nós é capaz de desenvolver determinadas características: há pessoas que desenvolvem muito a sua inteligência; outras desenvolvem a força física; outras desenvolvem o senso artístico, se tornam grandes artistas, autores de obras imortais; e há outros espíritos que dedicaram-se ao desenvolvimento da força mental, reencarnação após reencarnação. Muitos deles, inclusive, ficam muito tempo sem reencarnar…

Numa edição da Revista Espírita, Allan Kardec cita o caso dos possessos da cidade de Morzine, caso este que, inclusive, levou Allan Kardec a mudar a sua opinião a respeito da possessão. Allan Kardec acreditava (e assim ficou escrito em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, que havia no máximo a subjugação; a possessão como posse do corpo do espírito encarnado para um espírito desencarnado, para Allan Kardec, não existia. A partir desse caso dos possessos da cidade de Morzine, Allan Kardec muda de opinião, e isso fica claro nessa edição da Revista Espírita. Em A Gênese, Allan Kardec já reconhece a possibilidade da possessão.

Falando sobre esse caso, Allan Kardec comenta assim:

  • ”O fluido perispiritual do encarnado é, pois, acionado pelo espírito. Se, por sua vontade, o espírito, por assim dizer, dardeja raios sobre outro indivíduo, os raios o penetram. Daí a ação magnética mais ou menos poderosa, conforme a vontade; mais ou menos benfazeja, conforme sejam os raios de natureza melhor ou pior; mais ou menos vivificante, porque podem, por sua ação, penetrar os órgãos e, em certos casos, restabelecer o estado normal. Sabe-se da importância das qualidades morais do magnetizador. Aquilo que pode fazer o espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, um espírito desencarnado também o pode, visto ter o mesmo fluido, ou seja, pode magnetizar. Conforme seja bom ou mau o fluido, sua ação será benéfica ou prejudicial.”

Isso é ação mental, é pura magia. Assim como alguns espíritos têm o dom de curar, graças à sua forte ação mental, do mesmo modo, no sentido inverso, alguns espíritos voltados para o mal têm o poder de provocar doenças, inclusive de levar à morte do corpo físico.

Esse poder mental de um espírito sobre outro também é tratado no livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz, quando é dito que “podemos arrojar de nós a energia atuante do próprio pensamento”. No livro Loucura e Obsessão, do espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografado pelo Divaldo Franco, a magia, o feitiço são tratados claramente:

  • ”A ação dos feitiços é real, conforme se apregoou em diversas áreas das crenças e seitas religiosas, como das ciências socio-antropológicas? E, se tal ocorre, como fica a questão do determinismo, desde que homens e Espíritos maus, com práticas de tal porte alteram o destino das criaturas?”

”A magia é uma ciência-arte tão antiga quanto as primeiras conquistas culturais do homem. Reservada à intimidade dos santuários da antiguidade oriental, é o uso do magnetismo que começava a ser descoberto, da hipnose e do intercâmbio mediúnico com os que os próprios imortais desencarnados propiciaram aos homens. A superlativa ignorância das leis vestiu essas práticas de rituais e fórmulas ensinadas pelos espíritos, a maioria deles constituída de presunçosos e prepotentes, que se acreditavam deuses, exigindo sacrifícios humanos, animais, vegetais, conforme o processo da evolução de cada povo. Conhecendo, pelo estudo e pela repetição das experiências, a exteriorização magnética das chamadas forças vivas da Natureza e dos seres, manipulavam-nas com grande aparato para impressionar, colhendo alguns resultados que projetavam sacerdotes e quantos os praticavam.”

O que fica claro é que magia existe. O que não é necessário são os rituais e aparatos, conforme comentado aqui. Isso se deve a antigas superstições – mas a magia como ação mental existe, e existem, como nós comentamos, espíritos especializados nesses atos de magia. Espíritos muito antigos, como muito poder, que desenvolveram uma grande força mental, que se desenvolveram muito mentalmente, mas não se desenvolveram moralmente e que se dedicam ao mal.

Nós vemos no Evangelho que em determinada ocasião Jesus está retornando para junto dos seus discípulos e estão ali algumas pessoas reclamando que os discípulos não conseguiram expulsar um demônio de uma criança, de um jovem que estava ali. Jesus esclarece, então, que esta casta de espíritos não se expulsa (nós diríamos hoje ”não se afasta”) senão com jejum e oração.

”Esta casta de espíritos” – nós vemos que Jesus está tratando duma classe diferente de espíritos, que são justamente esses espíritos que desenvolveram um maior poder mental.

Isso que nós vimos, embora muito superficialmente, é suficiente para demonstrar que a magia existe, que ela está expressa na Doutrina e que ela pode ser tratada nos centros espíritas.

Claro que para isso deve haver uma equipe de trabalhadores devidamente preparados para tratar com essas forças e com os espíritos associados a essas forças. E isso requer muito estudo, requer a mente livre de dogmatismos (senão não se consegue ir muito longe), e, principalmente, Evangelho: o estudo e a prática do Evangelho. Aliás, o Evangelho tem que estar sempre presente em nossa vida. Conforme nós vamos estudando, conforme nós vamos conhecendo as mais variadas correntes de pensamento, nós vamos percebendo que está tudo dentro do Evangelho.

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