Perguntas dos leitores

Para que servem as práticas mediúnicas no centro espírita?

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Morel Felipe Wilkon

O leitor Francisco de Jesus Lopes fez alguns questionamentos sobre a conveniência das práticas mediúnicas no centro espírita. Na sua opinião, a única caridade verdadeira seria a transmissão do conhecimento, então surge a pergunta:

– Para que servem as práticas mediúnicas? – É o que tento responder mais abaixo.

Hoje tive a providencial oportunidade de conhecer este site. Foi através de pesquisa no YouTube que tive acesso ao vídeo que fala sobre fé e obras. Tirei muito proveito do vídeo e acabei por me interessar por outros temas, também disponíveis em vídeo. Sendo assim acabei por chegar até este site.

Sou pesquisador de tudo o que se refere à filosofia, ciência, religião. Nem preciso dizer, portanto, que tenho um pequeno conhecimento da doutrina espírita. Mas não frequento nenhuma casa espírita. Bem, estou chegando agora aqui no site e percebi que tem muitas matérias para eu pesquisar. O que pretendo fazê-lo. Mas, amigo Morel, tenho uma dúvida que há muito me vem consumido o raciocínio, sem obter uma resposta clara e objetiva. Creio que você poderá me ajudar muito nessa questão, pois no vídeo você falou muito em caridade.

Minha dúvida é a seguinte: Eu trago comigo um conceito de que a única caridade verdadeira é a transmissão do que de verdadeiro se aprende, ou seja, as verdades que o Mestre Jesus nos ensinou. Penso que qualquer coisa que não seja ajudar as pessoas e a mim mesmo a se libertar da ignorância através da instrução, seja perda de tempo. Mas não estou afirmando isso, mas informando meu pensamento predominante. Assim, penso que uma casa espírita deveria se concentrar no ensino e apenas no ensino da doutrina espírita e do Evangelho. Tenho pouco ou quase nada de conhecimento espírita, só li Kardec e o Chico e alguns outros livros espíritas e os filmes que têm sido lançados. Mas eu nunca consegui entender a tal da doutrinação que se diz fazerem aos espíritos desencarnados. Eu já estive em reuniões de doutrinação. Mas tenho muitas dúvidas sobre isso. Primeiro: não acho que os espíritos desencarnados, estejam como estiverem, necessitem do concurso dos encarnados para irem aos poucos se identificando com sua nova situação. Segundo: existe, ao meu ver, muita mistificação e animismo nos centros que visitei.

Ghost, do outro lado da vida
Ghost, do outro lado da vida

Uma dúvida que também me persegue: se os espíritos estão nas reuniões mediúnicas, como é ensinado, qual a necessidade de médiuns a falarem por eles. A própria doutrina diz que os espíritos desencarnados podem até saber o que pensamos. Pois em assim sendo, concluo, não sei se erroneamente, que as palestras proferidas nas casas espíritas deveriam ser mais que suficientes para ensinar aos espíritos tanto encarnados como desencarnados ao mesmo tempo, tornando com isso totalmente dispensável a reunião mediúnica.

Por favor, eu gostaria de esclarecimentos a respeito, a fim de corrigir os meus raciocínios e conceitos, bem como conhecimentos errados que acaso eu tenha manifestado aqui.

Muito grato por sua atenção.
Muita luz e muita paz… ah! antes que eu me esqueça, muito grato fico por este seu maravilhoso trabalho. Isto sim é que considero como sendo a verdadeira caridade, dar conhecimento a todos, que é o que a humanidade mais precisa.
Muito obrigado.

– Francisco, separei os tópicos suscitados por você para melhor respondê-los. Seus questionamentos estão em itálico vermelho:

“Eu trago comigo um conceito de que a única caridade verdadeira é a transmissão do que de verdadeiro se aprende, ou seja, as verdades que o Mestre Jesus nos ensinou”.

– Jesus nos ensinou, acima de tudo, com o seu exemplo. Talvez o traço mais característico de Jesus em relação a outros grandes espíritos que estiveram na Terra seja justamente o fato de Jesus não ter se limitado a trazer novos conceitos filosóficos, mas de ter mostrado o caminho através de si mesmo.

Vemos, ao longo dos Evangelhos, que Jesus não ficava apenas na teoria, mas beneficiava na prática quem estivesse receptivo a esse benefício. Além disso, a recomendação de Jesus aos seus seguidores é clara:

“E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai”. Mateus 10:7-8

O conceito que você defende está previsto nesta primeira recomendação de Jesus: Pregar que o reino dos céus está próximo. Isso resulta na movimentação do conhecimento sobre a nossa verdadeira natureza de filhos de Deus. O reino de Deus (ou reino dos céus) está próximo, pois está dentro de nós. O reino de Deus é o nosso próximo estágio evolutivo, e compete a nós desenvolvê-lo.

Mas esta não é a única recomendação de Jesus: Jesus ainda diz para:

– Curar os enfermos: esclarecer sobre a necessidade de saneamento das enfermidades morais que resultam em doenças psicossomáticas;

– Limpar os leprosos: “limpar” o campo magnético do paciente ou consulente através do passe ou de outras práticas energéticas;

– Ressuscitar os mortos: “doutrinar” ou esclarecer os espíritos desencarnados dedicados conscientemente ou não ao assédio (ou obsessão) sobre os encarnados ou outros desencarnados no sentido da necessidade de reencarnação como solução para as suas dores morais presentes, por meio do esquecimento temporário do passado, e como oportunidade de rearmonização consigo mesmos e com os espíritos com que se tenham desarmonizado;

– Expulsar os demônios: a palavra demônio vem do grego daimon e quer dizer espírito. Para o historiador Flavio Josefo, judeu contemporâneo de Jesus, demônio é como eram chamados “os espíritos dos homens perversos”. Expulsar, ou, melhor dizendo, afastar os demônios nada mais é que o trabalho conhecido como desobsessão.

Por fim, Jesus diz que isso deve ser feito de graça, e isso deve ser sempre lembrado. Vemos que apenas o ensino não é suficiente. Nem poderia ser, se observarmos que grande parte das pessoas que procuram um centro espírita o fazem como uma busca de cura ou solução para os seus problemas. E não há como resolver problemas às vezes milenares sem antes oferecer o alívio para os espíritos encarnados e desencarnados envolvidos. Uma pessoa obsediada provavelmente não terá condições de captar o ensino que é dirigido a ela se antes não for tratada.

Lembro que antes de ser implantada a obrigatoriedade da merenda escolar nas escolas públicas era comum que crianças “de baixa renda” tivessem maior dificuldade de aprendizado durante as aulas. Eu, particularmente, muitas vezes fui à escola com fome, e é difícil concentrar-se no estudo com o estômago roncando.

Não há, portanto, como exigir que espíritos encarnados ou desencarnados com graves problemas morais, energeticamente prejudicados, compreendam e assimilem conceitos que muitas vezes são totalmente novos para eles.

Concordo com você quanto à prioridade do ensino em relação a qualquer outra prática. Acredito que o centro espírita deve ser, primordialmente, uma escola. Mas não há como deixar de exercer o papel de hospital espiritual.

“Não acho que os espíritos desencarnados, estejam como estiverem, necessitem do concurso dos encarnados para irem aos poucos se identificando com sua nova situação.”

– Espíritos que ainda não se identificaram com a sua nova situação de desencarnados é porque estão, ainda, muito ligados ao plano material. Morreram, mas não “desencarnaram”. Sentem falta das sensações e ocupações da matéria densa e alimentam-se das energias dos encarnados.

O médium funciona como um aparelho de rádio, ajustando-se à freqüência daquele espírito para que ele consiga comunicar-se. É comum que espíritos não-esclarecidos levem muitos anos sem entender o que está acontecendo com eles. Permanecem com as mesmas ideias, as mesmas sensações, sentem como se ainda tivessem um corpo físico e não entendem por que ninguém os vê, ninguém os ouve. Conversam e tocam nos encarnados e não obtém respostas. O intercâmbio com os encarnados por meio da mediunidade é a sua oportunidade de esclarecimento. Além disso, sua situação pode ser sensivelmente melhorada ao contato com as boas energias do ambiente através do médium. Espíritos muito apegados à matéria permanecem com suas dores, suas doenças, suas limitações. Embora não tenham mais o corpo físico, sua mente permanece com as mesmas impressões que tinha no corpo físico. O contato com o plano físico através do médium, recebendo energias curadoras, pode aliviá-lo a ponto de convencê-lo a aceitar sua nova situação e o socorro que lhe é oferecido.

“Existe, ao meu ver, muita mistificação e animismo nos centros que visitei”.

– Existe mistificação, mas pode ser temerário tachar um médium de mistificador. Isso é acusar o médium de fingimento, e, mesmo sabendo que médiuns são pessoas como quaisquer outras, essa pode ser uma conclusão precipitada.

O animismo anda lado a lado com a mediunidade. É cada vez mais rara a mediunidade totalmente passiva, em que o médium é apenas um veículo para a manifestação do espírito. É normal que o médium contribua com elementos próprios para a comunicação, principalmente na função de doutrinação ou aconselhamento a espíritos desencarnados. Aliás, espera-se, exatamente, que o médium, como estudioso que deve ser, seja também um movimentador de conhecimento. O primeiro beneficiado com as boas comunicações é sempre o próprio médium. Ele é quem deve aprender com o conteúdo das mensagens em primeiro lugar. Espera-se, portanto, que ele faça bom uso do que aprende repassando ao próximo este conhecimento. Muitas vezes o que o médium capta do espírito comunicante é uma ideia, e compete a ele transmitir essa ideia com as suas palavras, ao seu modo.

“Se os espíritos estão nas reuniões mediúnicas, como é ensinado, qual a necessidade de médiuns a falarem por eles?”

– Espíritos muito ligados ao plano material não conseguem perceber espíritos que estejam vibratoriamente mais elevados que eles. Servindo-nos de um exemplo bastante conhecido na literatura espírita, vemos que André Luiz, enquanto estava no umbral, não percebia a presença do socorro espiritual, que, no entanto, às vezes estava ao seu lado. As mentes sintonizam umas com as outras de acordo com a frequência em que se encontrem. Temos um “peso específico” que nos impede de percebermos o que estiver acima.

Um espírito razoavelmente elevado dificilmente é percebido por um espírito que esteja em estado de grande confusão mental ou que estacione numa ideia fixa. Por isso a importância da participação do médium. Colocando-se na posição de intermediário entre duas frequências diferentes e incompatíveis, transmite a mensagem de um a outro.

“A própria doutrina diz que os espíritos desencarnados podem até saber o que pensamos. Pois em assim sendo, concluo, não sei se erroneamente, que as palestras proferidas nas casas espíritas deveriam ser mais que suficientes para ensinar aos espíritos tanto encarnados como desencarnados ao mesmo tempo. Tornando com isso totalmente dispensável a reunião mediúnica”.

– Acredito que as respostas anteriores respondam a essa questão. A menção que você faz à doutrina não foge ao que expus aqui. O Livro dos Espíritos, base da doutrina, é um livro de síntese, não de análise. Trata de princípios gerais, sem estender-se a minúcias.

Quando dizemos que o homem foi à Lua estamos dizendo a verdade, pois sabemos que em 1969 pela primeira vez o homem pisou em solo lunar. Mas eu, mesmo sendo homem, ainda não fui à Lua. Do mesmo modo, quando se diz que os espíritos sabem o que pensamos é porque existe essa possibilidade, mas não quer dizer, de modo algum, que todos os espíritos tenham livre acesso aos pensamentos uns dos outros.

O homem, como ser, conseguiu chegar até à Lua. O espírito, como ser, tem a possibilidade de acessar pensamentos alheios. Mas isso são possibilidades, não fatos disponíveis a todos.

Muitos espíritos assistem às palestras junto com os encarnados, acompanhando-os ou não. Outros espíritos, porém, por seu estado de confusão, ideia fixa ou rebeldia, não tomam conhecimento do que se passa ali.

O trabalho mediúnico é e será, por muito tempo ainda, uma importante ferramenta de auxílio aos mais necessitados. Reitero que concordo com você em que a função primordial do Espiritismo seja o esclarecimento. Mas, para que esta função seja exercida, outras medidas devem ser tomadas.

Neste site, na aba LIVROS, estão disponíveis em PDF os 13 livros que compõe a série A Vida no Mundo Espiritual, de André Luiz. Recomendo o seu estudo a todos que desejem compreender o intercâmbio entre os planos astral e físico. Especificamente em relação às suas perguntas, sugiro o estudo de Nos domínios da mediunidade, 8º livro da série.

Ainda sobre mediunidade, além de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, também disponível neste site, recomendo Mediunidade, de Edgard Armond; Mediunismo, de Ramatis; e Estudando a mediunidade, de Martins Peralva, que analisa e sistematiza o livro Nos domínios da Mediunidade.

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