Comportamento

Consolar ou esclarecer?

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Você gosta de consolar e ser consolado? Você se sente aliviado quando alguém releva seus erros? Ninguém gosta de ter os seus defeitos expostos, comentados, analisados, julgados. Mas até que ponto convém ser consolado? Às vezes não será melhor esclarecer em vez de consolar? Será que a partir de um momento a consolação não se torna prejudicial? Claro que sim.

Consolar é uma tarefa relativamente fácil. Exige habilidade, exige conhecimento, exige paciência. Mas traz resultados imediatos, e isso pode ser prejudicial para quem consola e para quem é consolado.

Sabemos que não devemos esperar nada em troca quando fazemos qualquer coisa em benefício de alguém. “Não saiba a sua mão esquerda o que fez a sua mão direita”, lembra disso? Mas não há como negar que gostamos de ser reconhecidos. E ao consolarmos alguém, muitas vezes recebemos agradecimentos emocionados. Se soubermos lidar com isso, tudo bem, mas o mais provável é que a vaidade seja alimentada e nos achemos mais importantes do que realmente somos.

Você gosta de consolar e ser consolado?

Ser consolado é bom, produz um alívio imediato, mas na maioria das vezes o consolo traz consigo a complacência para com os erros, o cuidado para não tocar nas feridas. Raramente o consolo é acompanhado pelo incentivo à renovação do espírito imortal, à reforma íntima.

Não devemos apontar os erros alheios. Temos que ter muito cuidado em criticar. Mas e se uma pessoa lhe procura para pedir um conselho, ouvir uma orientação, saber sua opinião acerca de alguma coisa da intimidade dela?

Se você percebe que a pessoa ilude a si mesma, que a pessoa não nota seus próprios defeitos, você fala com franqueza? Ou você passa a mão na cabeça da pessoa para não causar estragos emocionais? Você procura esclarecer a pessoa mostrando onde está o erro ou coloca panos quentes para não correr o risco de ser mal visto?

O ideal seria que pudéssemos sempre dizer tudo o que sabemos, tudo o que percebemos estar errado com as pessoas. Mas não podemos fazer isso. As pessoas só ouvem o que estão prontas para ouvir. É perda de tempo tentar esclarecer alguém que não quer ser esclarecido, dar conselhos a quem não os pediu. As críticas, por melhores que sejam suas intenções, por mais ricos que sejam seus argumentos, quase sempre geram ressentimentos e até inimizades. Não precisamos de inimigos.

Há quem defenda que podemos fazer a chamada crítica construtiva, e que temos o dever de dizer algumas verdades para quem merece. Há quem se julgue no direito de esclarecer as pessoas sobre os erros e defeitos delas, mesmo correndo o risco de não ser compreendido no momento. Alegam que mais tarde essa atitude pode gerar bons frutos. Certamente há um ou outro caso em que isso se aplique. Mas a regra é a crítica e o esclarecimento forçado produzirem apenas mágoa.

Por isso devemos aproveitar as oportunidades de esclarecer, sempre que surgirem, sempre que alguém quiser ser esclarecido. Sem empurrar nossas verdades pra cima de ninguém, sem querer “salvar a alma” de ninguém. A evolução não acontece aos saltos, você sabe.

E é bom lembrarmos que consolação é apenas um paliativo, não resolve problemas, apenas adia crises. Consolar é lidar com emoções, e emoções não costumam resolver problemas. Os problemas são resolvidos com a razão.

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