Comportamento, Reforma íntima

A criança – uma opinião espírita

criança na praia

Morel Felipe Wilkon

Artigo publicado originalmente em 12/10/2012

Você lembra quem é você de verdade? Não estou perguntando o seu nome. Qualquer criança sabe o próprio nome. Pergunto se você ainda lembra de quem você é lá no fundo, lá onde não há perigo de ninguém lhe encontrar.

Um dia você foi você mesmo. E se nesta encarnação você nunca teve oportunidade de se manifestar como você é de fato, pelo menos um dia você já esteve bem mais próximo de si mesmo do que hoje.

Cuide da criança que é você!

Talvez você esteja melhor hoje do que quando era criança. Talvez o modo como você se construiu venha se mostrando satisfatório. Se você se permitiu desenvolver virtudes e reprimir defeitos, ou coisas que são consideradas defeitos, provavelmente esteja conduzindo bem sua evolução moral. Mas é preciso saber que tudo aquilo que reprimimos fica guardado, não vai embora.

No processo que o espiritismo chama de reforma íntima, teríamos que aprender a lidar com nossas imperfeições e transformá-las, pouco a pouco, em virtudes. Sufocar nossas imperfeições pode ser necessário por um tempo, já que elas podem nos atrapalhar em nosso convívio em sociedade e prejudicar gravemente a nós mesmos. Mas, mais cedo ou mais tarde, teremos que revê-las, lembrar delas e enfrentá-las. Não há como fugir disso.

É muito bom nos fortalecermos espiritualmente através do estudo, da racionalização dos aprendizados morais, da prática do bem, do desenvolvimento ou tentativa de desenvolvimento de todas as virtudes que consideramos importantes. Esse fortalecimento nos proporciona uma nova maneira de encarar e resolver os problemas. Mesmo que os problemas continuem absolutamente os mesmos, nossa reação diante deles é outra.

Mas esse preparo espiritual é importante também para que estejamos prontos para olhar novamente para nós mesmos, quando for preciso. Porque nos esquecemos de quem somos. Você lembra de como você era quando criança? De seus sonhos, de suas ilusões, de sua maneira muito mais pura de analisar coisas e pessoas? Lembra que quase não se preocupava, e que gostava das pessoas com muito mais facilidade? Lembra que não via tanta maldade nas coisas e no mundo e nas pessoas, e que sua família ou as pessoas próximas de você pareciam melhores? Lembra como você se contentava com pouca coisa, e que algumas vezes só a expectativa de um acontecimento bom já era suficiente para lhe fazer feliz? Lembra de como você acreditava nas promessas que os adultos lhe faziam, e que quando você pedia alguma coisa e lhe diziam “sim, outro dia”, você acreditava que esse dia ia chegar? Lembra de como as coisas lhe pareciam simples e belas, e de como você queria crescer, pra ser grande, pra fazer todas aquelas coisas que os adultos faziam? – Você faz essas coisas hoje? E sente prazer nisso?

Acho uma perda de tempo terrível alguém viver se queixando. Perda de tempo e de energia. Não adianta culpar o mundo, as pessoas, Deus, não adianta culpar ninguém pelas coisas que nos acontecem. A vida nos reserva algumas experiências, de acordo com nossa necessidade de aprendizado, e o que importa é o modo como nós encaramos essas situações impostas pela vida. Importa o que nós fizemos para nós mesmos.

Só que você pode ter feito coisas pra você mesmo de que nem se lembra mais. A cada dificuldade, a cada decepção, a cada grande problema que você atravessou, você achou um meio de passar por cima disso. Pode ter dado resultado; você está aí, lendo este artigo calmamente. Mas será que tudo ficou bem resolvido na sua cabeça? Não sei, você também não sabe, e não estou propondo nenhuma solução.

Só estou lembrando isso porque hoje é dia das crianças, e você já foi criança, e foi quando criança que você começou a sufocar coisas em você mesmo para poder continuar vivendo. Não sei se você é mãe, ou pai, ou tio, ou tia, ou padrinho, ou madrinha, ou se sequer convive com crianças.  Você sabe que crianças são espíritos imortais como eu e você, podem ser tanto ou mais experientes do que nós. Mas retornam ao mundo físico em pequeninos corpos frágeis, que inspiram cuidado. E retornam esquecidos do seu passado milenar, para aproveitar melhor a nova chance, o novo estágio de aprendizado.

Se você tem algum convívio ou influência direta sobre qualquer criança, saiba que sua responsabilidade é enorme. Você tanto pode implantar ideias que serão abundantemente desenvolvidas, como também pode reprimir manifestações de ideias ou comportamentos que você acha errado só porque não conhece, ou não entende, ou aprendeu que é errado por algum conceito moral arcaico e ultrapassado. Cuidado. Cuidado com o que você representa ou pode representar para as crianças e cuidado com você mesmo. Porque biologicamente sua infância terminou quando você completou doze anos de retorno físico à Terra, mas a criança que você foi está intacta dentro de você. Sufocada. Esquecida. Ultrajada. Desrespeitada. Mas está aí, esperando condições para novamente, um dia, se manifestar. Para sentir de novo o mesmo entusiasmo pela vida, a mesma facilidade de gostar das pessoas, o mesmo prazer pelas coisas simples, a mesma credulidade e pureza. Feliz dia das crianças!

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