Comportamento, Reforma íntima

Não vale a pena discutir

discutir

Morel Felipe Wilkon

Artigo publicado originalmente em 15/08/2012

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Você aceita as opiniões diferentes da sua? Você concede ao outro o direito de pensar diferente de você? Cada vez que você discute você está defendendo o seu ponto de vista. Algo errado nisso? Sim. Não conheço ninguém que tenha mudado sua opinião por perder uma discussão. Não vale a pena discutir.

Você pode argumentar dizendo que há discussões saudáveis, que das discussões nascem ideias novas, que qualquer discussão é válida desde que haja respeito. Não posso julgar você por isso. Eu também pensei assim por bastante tempo. E mesmo hoje, quando estou convencido de que discussão alguma vale a pena, quando o orgulho me pega desprevenido eu exercito minha capacidade de argumentação discutindo.

Você só discute com quem tem muito em comum com você

O que eu ganho discutindo? A satisfação íntima de constatar que tenho argumentos sólidos e precisos, o prazer fugidio de não me deixar vencer. Pois é isso o que predomina numa discussão: O propósito de não se deixar vencer, a determinação de fazer valer a sua opinião, a sua ideia, a sua versão dos fatos. Não importa com quem você trave uma discussão. Seu chefe, sua vizinha, seu marido, seu filho, sua mãe, seu professor, o motorista que se atravessou na sua frente, o gerente do banco, o camelô, a moça do caixa do supermercado. Você não está preocupado em chegar num acordo. Você não está em busca de um denominador comum. Você não está pondo em jogo quem está com a razão. Você só quer provar que você está com a razão, você só quer que fique bem claro que você está certo, você só quer que prevaleça a sua verdade.

Se você não concorda, se você acha realmente que não é assim, talvez seja a hora de refletir um pouco a respeito. Você dedica cinco minutos para ler este artigo, cinco minutos de espiritismo. Se você tiver mais uns cinco ou dez minutos disponíveis, lembre-se de suas últimas discussões. Busque na memória suas discussões mais marcantes.

Então você é obrigado a concordar com tudo o que os outros falam? Claro que não. Antes de mais nada, é preciso distinguir discussão de debate. Num grupo de estudos, se debate. Se você quer aprender algo novo, se você quer analisar outras ideias, você debate. O debate pode ser chamado de discussão, não há problema nisso. O que importa é que nesse caso você está aberto a outros pontos de vista que não o seu. Você está buscando isso. Num debate você age como espírito imortal em busca da reforma íntima. Numa discussão você é apenas humano…

Numa discussão busca-se a vitória, mesmo que a intenção não seja essa, e quase sempre não é. A discussão mexe com seus brios, apelido carinhoso para uma das facetas do orgulho. O orgulho não vai permitir que você reconheça que a razão pode não estar do seu lado. E você sabe que o orgulho é um péssimo conselheiro. Da discussão para a raiva é um passo. E a raiva cega, a raiva não deixa você raciocinar, você distorce tudo a seu favor.

Por que se discute? Por causa da divergência? Sim, mas a divergência só ganha importância quando ela se destaca de um monte de convergências. Não fui claro? Eu explico melhor. Você nunca discutiu com alguém que diferia muito de você. Você só discute com quem tem muito em comum com você. Você e seu oponente têm tanto em comum um com o outro que querem forçar-se mutuamente a concordarem em tudo. Você e a pessoa com quem você discute concordam em “quase” tudo. A discussão é a tentativa desesperada de acabar com o “quase”.

Há muito mais semelhanças do que diferenças entre você e o outro. Por que dar tanta importância às diferenças? Um dos pontos mais importantes a serem desenvolvidos com a reforma íntima é a tolerância. E ser tolerante também é isso, é ganhar uma discussão fugindo dela.

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