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Espiritismo e a abolição da escravatura

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Morel Felipe Wilkon

Artigo publicado originalmente em 13/05/2013

Quando da abolição da escravatura no Brasil, fazia apenas 31 anos que o Espiritismo havia surgido na França. Talvez você não dê importância à data comemorada hoje. No entanto, 125 anos atrás, quase um milhão de espíritos encarnados no Brasil deixaram de ser propriedade de outros espíritos encarnados no Brasil. 125 anos atrás era legalmente abolida a escravidão no Brasil, a maior aberração de que se tem notícia neste planeta. Nada se compara à escravidão. Um ser humano ser propriedade de outro ser humano. Nenhum crime, por mais bárbaro que seja, é tão vergonhoso à condição humana quanto a escravização do seu semelhante.

Oficialmente, havia pouco mais de 700 mil escravos na data da abolição. Em poucos anos, mais da metade deles havia morrido. Acostumados ao trabalho nas fazendas, em sua maioria, foram se aventurar nas cidades, sem ter recursos ou paradeiro. Muitos caíram no alcoolismo, na criminalidade, na mendicância. Tiveram início as primeiras favelas. Milhares de idosos e crianças ficaram abruptamente sem proteção, sem cuidado, sem nada. As sequelas dessa época duram até hoje.

Abolição da escravatura
Havia escravos no Brasil…

O Brasil foi construído a braço negro. Somos um país de bases negras. Somos um país onde durante séculos o trabalho era considerado ofensivo aos brancos dominantes.

O 13 de Maio já foi feriado nacional. Até 1930 era a data da fraternidade dos brasileiros. Sua comemoração foi proibida por Getúlio Vargas, em sua tentativa de integração nacional. Getúlio também proibiu os descendentes de imigrantes europeus de falarem suas línguas de origem, caso dos alemães do Sul. Getúlio pretendia uma nação brasileira autêntica, unificada. Foi nessa época que firmou-se o Brasil do futebol e do carnaval.

Espiritualmente, reencarnaram no Brasil muitos milhões de espíritos com a prova rude da escravidão. Muito ódio foi gerado, muitas perseguições continuam até hoje em forma de obsessões.

Mas não podemos deixar de reconhecer o quanto de amor nasceu da dor do cativeiro. Famílias de escravos que desenvolveram o amor entre seus membros superando o sofrimento; o carinho e a amizade que havia muitas vezes entre senhores e escravos. Crianças cresciam brincando juntas, e muitas dessas amizades venceram as diferenças de condição social. Muitos amores proibidos, muitos filhos gerados clandestinamente. Muitos exemplos de amor e perdão na figura dos pretos velhos, em sua maior parte espíritos bastante evoluídos incumbidos de zelar pelos seus irmãos de amargura e de incutir o amor fraternal no coração dos senhores.

Nada justifica homens submeterem homens. Mas nosso planeta não se caracteriza pelo ideal, mas pelas provas a que somos todos submetidos em nossa escalada evolutiva. A História é uma coleção de injustiças e atrocidades. A História foi escrita e protagonizada por nós, espíritos imortais ligados a Terra. Fomos nós os responsáveis por tudo o que já se fez neste planeta, através de múltiplas reencarnações. Muitos de nós fomos escravos e senhores.

Nos encaminhamos para um Brasil mais justo num mundo mais justo. Me atrevo a duvidar de que exista país mais amoroso do que o nosso. Duvido que em outro lugar do mundo haja a miscigenação, o convívio harmonioso, o respeito que há entre tão diversas etnias como aqui. Em Porto Alegre, onde moro, árabes e judeus são vizinhos de loja. Sei que há discriminação. Mas os que se apressam a falar mal do país talvez não saibam que preconceitos e discriminações são falhas de caráter do espírito, não dos brasileiros em particular. Não são características de uma sociedade ou povo. São traços negativos de que devemos nos livrar.

Sei que muitos asseguram que ainda há escravidão, só que disfarçada. Que o negro ainda é marginalizado pela sociedade. Há muita verdade nisso. Mas lembro a esses que os antepassados dos negros de hoje não considerariam as condições atuais dessa forma. E que estamos brancos, ou negros, ou índios, mas somos espíritos. Há uma condição de igualdade mais ampla e perene do que as diferenças impostas pela transitoriedade da matéria. 

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