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Jesus vai voltar? – uma visão espírita

parousia

– Jesus vai voltar?

Grande parte dos cristãos acredita na segunda vinda de Jesus. Até alguns espíritas, ainda sob a influência da sua religião de origem, acham que Jesus vai voltar de alguma forma.

Os primeiros cristãos, contemporâneos de Jesus, acreditavam que Jesus iria voltar em breve. Paulo acreditava que Jesus voltaria ainda durante a sua existência – isso fica claro na sua carta aos tessalonicenses. Os cristãos de Tessalônica temiam por aqueles que já tinham morrido. Será que aqueles que estavam mortos veriam Jesus? Será que seriam salvos por Jesus?

Paulo responde a eles na sua carta:

“Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança.

Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem.

Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem.

Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.” 1 Tessalonicenses 4:13-17

É possível que Paulo tivesse um entendimento espiritual mais profundo. Se nós refletirmos acerca de 1 Coríntios 15, poderemos notar um entendimento mais elevado. Mas esse não é o foco deste trabalho. O fato é que a ideia que Paulo passa aos tessalonicenses é uma ideia primária, de que Jesus voltaria ainda no seu tempo.

Há várias passagens que demonstram que os primeiros cristãos acreditavam que já estavam vivendo o fim dos tempos (ou pelo menos o fim de uma era).

Em Hebreus 9:26, o autor de Hebreus, referindo-se a Jesus, diz:

“(…) agora, porém, ao se cumprirem os tempos (…)”

Ainda em Hebreus, 10:24-25:

“Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.”

Atos 2 menciona os fenômenos mediúnicos que aconteceram no dia de Pentecostes. Algumas pessoas, vendo aquelas manifestações mediúnicas, achavam que eles estavam bêbados. Pedro esclarece:

“Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.

Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel:

E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.” Atos 2:15-18

Essas coisas deveriam acontecer nos últimos dias, e estavam acontecendo naqueles dias. Pedro acreditava, então, que eles já estavam vivendo os últimos dias.

Isso certamente gerou muita expectativa entre os primeiros cristãos. Se os apóstolos de Jesus diziam que era chegado o fim dos tempos e que Jesus iria voltar em breve, eles acreditavam. A crença de muitos deles se baseava apenas nisso: o mundo estava acabando e era preciso aderir a Jesus para ser salvo.

Mas… o tempo foi passando, o mundo não acabava, e nada de Jesus voltar. Os líderes cristãos da época tentaram contornar -exatamente como fazem ainda hoje.

Há uma carta atribuída ao apóstolo Pedro, 2 Pedro. Os especialistas são unânimes em afirmar que essa carta não foi escrita por Pedro. Foi produzida por alguém que tinha interesse em se passar pelo apóstolo Pedro em meados do século II. Nessa carta nós vemos que muitas pessoas já não acreditavam na segunda vinda de Jesus e escarneciam (debochavam) daqueles que ainda esperavam por Jesus, mesmo tendo passado já tantas décadas, talvez mais de um século:

“(…) nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” 2 Pedro 3:3-4

– Onde está a promessa da sua vinda?

Tudo continuava igual, nada tinha mudado no mundo, e nada de Jesus aparecer.

– Como é que Pedro tenta resolver a questão?

“(…) para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia.” 2 Pedro 3

No Evangelho de João nós também encontramos uma explicação (forjada) para a demora na volta de Jesus. O capítulo 21 do Evangelho de João foi escrito mais tarde, não foi escrito junto com o restante do Evangelho, e o seu autor não é o mesmo autor do restante do Evangelho. Podemos notar que o Evangelho de João de dois finais. Você pode ver isso com detalhes no meu estudo sobre o Evangelho de João.

Ali conta que Jesus apareceu aos seus discípulos e Pedro aproveita para perguntar a Jesus a respeito de João (ou do autor do Evangelho de João, que na verdade não sabemos quem é):

“E quanto a este?

Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me.

Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” João 21:21-23

Havia a crença de que João não morreria. Como João morreu e Jesus não tinha voltado ainda, alguém fez esse remendo no Evangelho para tentar contornar a situação.

– Será que o próprio Jesus disse que voltaria?

Em Mateus 24:3 os discípulos perguntam diretamente a Jesus sobre a sua vinda. Jesus faz uma série de previsões apocalípticas – que, se nós analisarmos friamente, são coisas que aconteceram em todos os tempos, são eventos naturais do mundo em que vivemos e fatos inerentes ao nosso estágio evolutivo – e Jesus fala então da vinda do filho do homem.

Aí, evidentemente, entra uma questão de interpretação. Aqueles que se acostumaram a acreditar cegamente no que a teologia diz, aqueles que acreditam que Jesus é Deus, o próprio Deus creador do Universo, eles não conseguem perceber o sentido simbólico do ensino de Jesus.

Eu chamo a atenção várias vezes, principalmente no meu estudo sobre o Evangelho de Lucas, a respeito da expressão “filho do homem”. “Filho de” é uma expressão semítica, uma expressão muito utilizada pelo povo israelita que designa a qualidade da palavra que lhe segue. Por exemplo: filho do orgulho quer dizer orgulhoso; filho do mundo é o mundano; filho da luz é o iluminado; filho da câmara nupcial é o amigo do noivo – uma espécie de padrinho de casamento. Se eu dissesse, naquele tempo e naquele lugar, que eu sou natural de Porto Alegre, eu diria que sou filho de Porto Alegre.

O filho do homem, então, é o fruto do homem, o resultado do homem, o homem que há de vir, ou seja, o homem em seu próximo estágio evolutivo. É a isso que Jesus está se referindo. Isso que é interpretado até hoje como a segunda vinda de Jesus, na verdade é a nossa ascensão a um estágio evolutivo mais elevado.

O que nós podemos concluir com o que nós vimos até aqui?

Os primeiros cristãos acreditavam que Jesus ia voltar. Como Jesus não voltava, começaram as interpretações das escrituras a esse respeito. Ninguém, naquele tempo, seria capaz de imaginar que até hoje, passados quase dois mil anos, milhões de pessoas continuam acreditando que Jesus vai voltar.

No último versículo do Evangelho de Mateus Jesus diz assim:

“E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” Mateus 28:20

Jesus não vai voltar. Jesus não precisa voltar. Jesus está conosco quando nós seguimos os seus ensinamentos. Esse é o sentido profundo e a verdadeira razão de ser do Evangelho de Jesus. Jesus vive em nós.

***

Todos nós somos parte de Deus. Deus está em tudo e em todos. Você é uma das percepções possíveis de Deus. A fagulha divina em nós é o que o evangelista João chama de logos, mas que também podemos chamar de Deus imanente ou Cristo interno. Jesus é o espírito que desenvolveu plenamente o seu Cristo, a fagulha de Deus em nós.

– Os apóstolos de Jesus entendiam isso?

Provavelmente não. No Evangelho de Marcos, principalmente, fica claro que eles não entendiam quase nada do que Jesus dizia.

Muito provavelmente os primeiros cristãos só adotaram o Cristianismo como religião porque acreditaram que Jesus tinha ressuscitado dos mortos e que ele iria voltar em breve. Achavam que o mundo ia acabar e que precisavam aderir a Jesus para serem salvos.

É evidente que algumas pessoas praticavam os seus ensinamentos. Desde o século I havia discussões sobre a maneira mais correta de seguir o ensino de Jesus. Mas essas questões, como ocorre até hoje, ficavam restritas a uma elite intelectual. A grande massa se converteu porque encontrou no Cristianismo popular um meio de salvação deste mundo de dificuldades.

Eu selecionei mais algumas passagens que atestam que eles achavam que Jesus voltaria em breve. Comecemos por João:

“Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.” 1 João 2:18

Paulo chega a sugerir aos cristãos que não se ocupem de suas vidas cotidianas:

“Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa.” 1 Coríntios 7:29-31

Pedro, como já vimos nos Atos dos Apóstolos, também achava que o fim estava chegando:

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações.” 1 Pedro 4:7

Tiago, chamado irmão de Jesus, pensava do mesmo modo:

“Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima.” Tiago 5:7-8

Nenhum livro que compõe o Novo Testamento fala tanto na volta de Jesus quanto o Apocalipse. O Apocalipse prega que o fim está próximo e que Jesus breve irá voltar. A referência, sem dúvida alguma, era para aquele tempo:

“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João.” Apocalipse 1:1

“Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.” Apocalipse 1:3

“Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!” Apocalipse 1:7

“Venho sem demora (…)” Apocalipse 3:11

“E eis que venho sem demora (…)” Apocalipse 22:12

“(…) Certamente, venho sem demora (…)” Apocalipse 22:20

Tudo isso, na verdade, é má interpretação do ensino de Jesus. Sob o ponto de vista estritamente material, todas as previsões falharam. Só conseguimos compreender plenamente o ensino de Jesus se considerarmos que somos seres multimilenares, que experimentamos inúmeras existências  materiais, desenvolvendo nossas potencialidades pouco a pouco.

O Evangelho oferece o seu verdadeiro valor no seu sentido simbólico. A passagem a seguir poderia dar a impressão de que Jesus também se enganou – e, mais do que isso, que tenha sido ele mesmo a levar seus seguidores ao engano de esperá-lo inutilmente:

“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras. Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do Homem no seu reino.” Mateus 16:27-28

O filho do homem, como já vimos, é o nosso próximo estágio evolutivo. Quando alcançarmos esse estágio, estaremos colhendo (como colhemos sempre) o fruto da nossa própria semeadura. Todo o nosso esforço evolutivo irá se manifestar numa vida mais espiritual e menos material.

Jesus chama a atenção para o fato de que alguns espíritos que estavam encarnados próximo a ele, “não passariam pela morte”. Sabemos que somos seres imortais. Mas a maior parte dos espíritos da Terra perde-se em seus próprios erros quando desencarna – experimentando aquilo que chamamos de umbral ou, pior ainda, trevas. Espíritos mais adiantados, quando desencarnam, libertando-se do peso da matéria, conseguem perceber vislumbres da sua verdadeira natureza, compreendendo perfeitamente o que vem a ser o estágio evolutivo que nos aguarda a todos.

Jesus disse, no Evangelho de Lucas, que o reino de Deus está dentro de nós. Está tudo em nós. Todas as informações possíveis e necessárias para a nossa experiência terrena estão dentro de nós.

Outra passagem poderia dar a impressão de engano por parte de Jesus:

“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.” Mateus 24:34

Jesus, aqui, está se referindo àquela geração de espíritos, ou seja, dos espíritos vinculados à Terra. Nós inclusive.

– Por que as pessoas entenderam e ainda entendem que Jesus deve voltar?

Por que essas pessoas não acreditam que nós possamos nos salvar por nós mesmos. Acham que nós somos pecadores e que não há o que nós possamos fazer que nos livre da condição de pecadores.

Se nós não considerarmos a reencarnação, esse ponto de vista poderia estar certo. Uma existência de algumas décadas não é suficiente para que nós desenvolvamos todas as nossas potencialidades e nos tornemos seres efetivamente melhores do que nós somos.

Mas a vida é eterna, e nós reencarnamos muitas vezes na Terra. A cada existência nós aprendemos um pouco, e esse aprendizado vai se somando, vai se agregando ao nosso ser.

Jesus, mais do que um homem, ou um espírito iluminado, é uma ideia. Jesus representa uma ideia. Jesus é a síntese das melhores possibilidades humanas. Essa ideia está bem viva dentro de nós. Temos que acessá-la constantemente, e procurar desenvolvê-la.

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