Comportamento, Vídeo

O que NÃO é Espiritismo

espiritismo

Existe uma grande confusão, entre as pessoas que não conhecem o Espiritismo, sobre o que é o Espiritismo.

Eu já vi alguns artigos sobre este tema, alguns vídeos tentando esclarecer este tema – recomendo o vídeo do Juan Marcelo – o que é e o que não é Espiritismo – mas, como eu sei que muitas pessoas de outras correntes de pensamento assistem os meus vídeos – pessoas que não conhecem o Espiritismo, ou que pensam que conhecem mas não conhecem, resolvi dizer umas poucas palavras sobre isso. Você pode assistir o vídeo ou, se preferir, ler o artigo logo abaixo.

Espiritismo não é Umbanda – eu volto a falar sobre a Umbanda depois –  Espiritismo não é Candomblé, não é religião africana; Espiritismo não é macumba, Espiritismo não faz magia, não faz despacho; não larga despacho na encruzilhada, muito menos no cemitério; Espiritismo não faz favores – talvez o maior engano das pessoas que simpatizam com o Espiritismo seja este: pensar que o Espiritismo faz favores – e isso em grande parte é culpa dos trabalhadores do centro espírita, aquelas pessoas que gostam de aparecer, que gostam de passar por boazinhas, ou, pior ainda, que gostam da sensação de poder (afinal de contas, se eu ajudo alguém espiritualmente, esse alguém vai me admirar, vai falar bem de mim, vai achar que eu sou poderoso, logo, eu vou ter uma espécie de “fã-clube”) – pura vaidade, pura vaidade e sede de poder. É claro, não é porque uma pessoa é espírita que ela vai estar livre da vaidade.

Mas o Espiritismo não faz favores: esse negócio de “trago a pessoa amada em sete dias” não é Espiritismo. Espiritismo não traz a pessoa amada em sete dias nem em setenta vezes sete dias; Espiritismo não arruma emprego, não faz soltar os negócios, não tem nada a ver com coisas materiais.

O que acontece, muitas vezes – e isso não só com o Espiritismo, mas com religiões em geral – é que a pessoa, quando se dedica à espiritualização, ela se equilibra – e uma pessoa equilibrada naturalmente vai se dar melhor em todas as áreas da sua vida: foi isso o que Jesus disse quando nos recomendou cuidar primeiro das coisas do reino de Deus, ou seja, das coisas do espírito, que as demais coisas no seriam dadas por acréscimo.

Espiritismo não cobra por seus trabalhos (se quisermos chamar o atendimento espiritual de trabalho – e na verdade é um trabalho).

Espiritismo não promete curas – o Espiritismo poderia, talvez, prometer curas se o seu propósito fosse arrebanhar prosélitos, se o seu objetivo fosse convencer e converter o maior número de pessoas possível.

É verdade que muitas curas são alcançadas a partir de atendimentos espirituais, mas este não é o objetivo do Espiritismo – a cura física não é o objetivo do Espiritismo, o objetivo do Espiritismo é a cura espiritual, e isso exige esforço por parte da pessoa interessada, isso não pode ser concedido como um favor, como um privilégio. A cura do espírito passa necessariamente pelo esclarecimento e pela mudança de hábitos internos e externos.

O Espiritismo não tem rituais de nenhuma espécie. Algumas pessoas podem contestar – tem pessoas que gostam de contestar – e poderão sustentar a ideia de que a própria oração é uma espécie de ritual. Pode ser – se elas pensam assim, vamos deixar assim. Mas não há rituais, não há altar, nem velas, nem imagens, nem nada parecido.

Agora – não há nada de errado com essas coisas. Elas não são necessárias, tendo em vista que são elementos exteriores, materiais, e o que importa é o que está dentro de nós – nossos pensamentos, sentimentos e energias – mas não há motivo para condenarmos essas coisas.

Eu falo isso porque tem espírita que vê um confrade seu, um outro espírita, com uma imagem em casa, ou uma fitinha do Senhor do Bom fim, uma fitinha de festa de Iemanjá e fica doido; só falta querer arrancar a fitinha do outro, porque espírita não cultua imagens, espírita não se apega a exterioridades – esse cuidado extremo é tão pernicioso ou mais pernicioso do que o fato de ter uma fitinha ou uma imagem. Precisar, não precisa – mas se a pessoa quer, se ela gosta, é um assunto dela, ninguém tem nada que ver com isso.

Espiritismo não tem espetáculo. Muitas pessoas, principalmente católicos e evangélicos, têm medo de Espiritismo – às vezes é uma pessoa que tem alguma simpatia pelo Espiritismo, leu um livro da Zíbia Gasparetto e tem curiosidade de conhecer um centro espírita – só que tem medo – morre de medo de ver espírito. Não tem espetáculo, não tem incorporação espalhafatosa, não há necessidade disso.

Eu citei os livros da Zibia Gasparetto. Nada contra, pelo contrário, acho que ela presta um serviço inestimável para a popularização dos preceitos básicos do Espiritismo – embora ela não faça mais parte do movimento espírita. Mas a leitura dessa literatura espiritualista – digamos assim, mais popular (volto a dizer: sem demérito algum para a Zibia; pelo contrário), mas a leitura desses livros, como de outros livros do gênero, sem o conhecimento doutrinário, pode levar as pessoas, pelo menos num primeiro momento, a uma visão fantasiosa do Espiritismo. E dessa visão fantasiosa o que mais se destaca é a teoria das almas gêmeas. Não existem almas gêmeas, nós somos seres individuais, não dependemos de uma suposta metade perdida para nos completar. O que há são espíritos afins, espíritos que constroem tamanha afinidade que parece que foram feitos um pro outro. Mas isso não tem nada a ver com almas gêmeas.

Não existe alto Espiritismo, baixo Espiritismo, Espiritismo de mesa, Espiritismo de terreiro, Espiritismo kardecista. Essas nomenclaturas surgiram para diferenciar o Espiritismo da Umbanda e das religiões de nação africana.

Não há como confundir Espiritismo e religião africana. O único traço mais marcante que o Espiritismo e as religiões de nação africana têm em comum é a comunicação com os espíritos – e mesmo assim a maior parte das religiões de nação africana dão maior ênfase aos orixás.

Mas espírito e manifestação de espírito tem em todas as religiões, mesmo que elas não reconheçam. As manifestações atribuídas ao Espírito Santo, nas igrejas pentecostais, são manifestações de espíritos, são manifestações mediúnicas ou medianímicas. Os exorcismos das igrejas evangélicas são manifestações de espíritos – eles chamam de demônios, mas são espíritos desencarnados, espíritos sem esclarecimento – assim como há espíritos encarnados sem esclarecimento, há espíritos desencarnados sem esclarecimento; assim como há espíritos encarnados que prejudicam os outros, há espíritos desencarnados que prejudicam os outros. Os santos da igreja católica são espíritos, e consequentemente todas as manifestações atribuídas a Nossa Senhora ou a santos são manifestações de espíritos. Então não são as manifestações de espíritos que tornariam as religiões de nação africana semelhantes ao Espiritismo, passíveis de serem confundidas com o Espiritismo. Nada contra, de jeito nenhum. Frequentei muitas terreiras de batuque na infância e na adolescência – batuque é como é chamada a religião de nação africana aqui no sul.

Agora a Umbanda. Muitos umbandistas se dizem espíritas. Por quê? Por que a Umbanda surgiu dentro de um centro espírita. A origem da Umbanda, pelo menos aqui no plano material, é o Espiritismo. A Umbanda surgiu no Brasil em 1908, dentro de um centro espírita, por intermédio de Zélio Fernandino de Moraes. A Umbanda é religião brasileira e cristã. Herdou elementos africanos e indígenas, mas a sua origem é o Espiritismo. Durante décadas a Umbanda, por sua proximidade com elementos de cultura africana, foi perseguida pela polícia. Para se ter uma ideia, o órgão público responsável pela fiscalização das religiões de origem africana era o mesmo órgão que fiscalizava os entorpecentes. Religião já foi caso de polícia no Brasil.

Espiritismo e Umbanda

Para se livrar da perseguição, muitas casas de Umbanda e de nação africana passaram a adotar o nome de “centro espírita”. No caso da Umbanda se vê até hoje: “centro espírita de Umbanda”. Mas além disso, a Umbanda se ressente, até hoje, de uma codificação própria. A maior parte dos centros de Umbanda adota a codificação kardekiana. Então existe, sim, grande proximidade entre o Espiritismo e a Umbanda. Particularmente eu acho que a Umbanda só teria a ganhar se adotasse uma identidade mais definida, que a diferenciasse mais do Espiritismo.

Não vejo demérito nenhum em ser confundido com umbandista. Mas é que para quem não conhece nada do assunto – como é o caso daqueles religiosos que têm a Bíblia como única fonte de verdade – Espiritismo e Umbanda são a mesma coisa; Umbanda e religião africana são a mesma coisa; religião africana e magia negra são a mesma coisa – aí, no final das contas, o Espiritismo é confundido com magia negra, e aí não dá: isso ,sim, é vergonhoso.

Mas a Umbanda merece todo o nosso respeito, todo o nosso carinho, é uma religião que só faz o bem e que tende a crescer cada vez mais, a evoluir cada vez mais.

Espiritismo, Umbanda, Pretos-velhos, Divaldo Franco e Jorge Hessen

Um dia desses eu vi o Jorge Hessen num vídeo dizendo que nós não temos nada a aprender com os umbandistas; que eles podem aprender conosco, mas que nós não temos nada a aprender com eles. Eu até entendo que o Jorge pode ter dito isso num momento mais caloroso, mas não posso concordar com ele de jeito nenhum. Tem muita coisa que os umbandistas sabem e que os espíritas nem sonham. Essa pretensão de sermos detentores da verdade tem que ser eliminada. O único modo de provarmos que estamos certos e que somos mais certos do que os outros é apresentando resultados. E os resultados, numa doutrina filosófico-científico-religiosa, é a transformação das pessoas. A transformação na vida das pessoas que abraçam essa doutrina. Palavras, por si só, não convencem. Fatos convencem. E se os fatos a favor do Espiritismo fossem assim tão gritantes; se o Espiritismo fosse assim tão superior a ponto de transformar os seus adeptos, nosso país não estaria na situação que está: Brasil coração do mundo pátria do Evangelho – esse livro foi escrito em 1938. O que o Espiritismo fez de tão transformador de lá para cá? Certamente não nos transformou em pessoas mais humildes. Não mudamos a pátria, não estabelecemos novos valores na sociedade.

O fracasso do Movimento Espírita

Esse vídeo é para dizer o que não é o Espiritismo. Eu disse no começo que eu li alguns artigos sobre o tema “o que não é o Espiritismo”. E a maioria se apega a questões puramente doutrinárias, numa quase dogmatização. É claro que o Espiritismo tem um corpo doutrinário que deve ser respeitado, mas…  será que é isso que faz a diferença? O que isso influencia na vida dos espíritas, no desenvolvimento espiritual dos espíritas?

Se reconhece a árvore pelos seus frutos. E neste quesito nós estamos em débito.

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