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Os espíritas e os movimentos sociais

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Morel Felipe Wilkon

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Alguns espíritas têm certo receio de se posicionarem em relação aos movimentos sociais, como se isso abalasse sua fé ou sua conduta.

Terminaram as férias. Estou de volta ao trabalho, de volta ao site, de volta à rotina. Gosto da rotina. É a maneira que encontro, por enquanto, para manter a disciplina.

Semanas atrás, interrompi as férias para tratar dos protestos que vinham ocorrendo em todo o país. Achei o momento oportuno, único, e quis deixá-lo registrado. Este tema ainda merece algumas considerações.

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O espírita é espírita o tempo inteiro

Não acho que se deva misturar Espiritismo e política partidária ou ativismo social. O Espiritismo, em seu caráter tríplice, científico-filosófico-religioso, já é bastante abrangente. Mas o Espiritismo enfatiza o aspecto moral, e a moralidade desenvolve-se também coletivamente, ao menos em seus desdobramentos. Noto em alguns espíritas um certo receio em se posicionar em relação às questões sociais, como se isso abalasse sua fé ou sua conduta.

Não defendo este ou aquele governo. Não sou favorável a manifestações como as que vimos como uma forma de lutar contra governos. Meu posicionamento é contra as imoralidades. E isso transcende o aspecto governamental.

O Espiritismo, ao nos esclarecer os mecanismos da reencarnação, nos tornou mais iguais do que nunca. Antes da codificação, éramos iguais só teoricamente, filhos do mesmo pai, irmãos em Cristo. Hoje sabemos que reis reencarnam como mendigos, senhores como vassalos, patrões como empregados, ricos como pobres. Todos fomos creados simples e ignorantes. Todos temos a mesma origem e o mesmo destino de felicidade. Não somos melhores ou piores do que aqueles contra os quais eventualmente nos posicionamos.

A mediunidade, livre dos misticismos de outrora, acabou com a distância que nos separava dos que já passaram para o outro lado. Graças à mediunidade temos contato com o outro plano, e não há mais mistério absoluto. No nosso plano físico, também houve um advento que acabou com as distâncias. A internet. As redes sociais aproximam os semelhantes. Milhões de pessoas foram mobilizadas para ir às ruas graças às redes sociais. Mesmo com o boicote e a má vontade da grande mídia, houve uma mobilização sem precedentes.

Os movimentos sociais mobilizados a partir das redes sociais serão um fenômeno cada vez mais comum, e o povo se fará ver e ouvir como há pouco tempo não se imaginava.  Os bandidos que se infiltram nos movimentos sociais serão expurgados com o tempo. Há bandidos em todos os setores, são uma parcela significativa da sociedade. Hoje o nosso nível de informação nos permite identificá-los e classificá-los como tais.

O mundo nunca foi ideal. Há quem lembre de um passado que não existiu e ressuscite idealismos e idealistas. Muitos criticavam os jovens por não participarem da vida político-social do país. Quando resolveram participar, também foram criticados. São criticados por sua postura festiva, informal, fora dos padrões de organização dos movimentos de outros tempos. A imprensa veicula fotos de situações ridículas, passando uma imagem deturpada ou parcial dos movimentos.

A tecnologia de hoje não comporta mais formalismos. Se procurarmos por fotos das antigas revoluções, encontraremos os melhores momentos registrados. Tirar foto era um acontecimento, a família se arrumava e fazia poses estudadas. Era assim com os políticos, com os artistas, com os revolucionários. Não há mais líderes bonitos fazendo pose com o charuto.

Na década de 1940 houve a mais famosa dupla de jornalista e fotógrafo até hoje no Brasil. David Nasser e Jean Manzon. Em 1946, iam entrevistar o então deputado Barreto Pinto. Ele estava atrasado, eles também. Como ele estava só de fraque e cueca, a dupla prometeu que a foto pegaria só da cintura pra cima. Enganaram o deputado, publicaram a foto do deputado de cueca na revista Cruzeiro, a maior da época, e o deputado foi cassado.

Hoje, com o celular, se tira foto em tudo que é lugar, a todo momento, de qualquer circunstância. Não há mais espaço para os formalismos de antes. Não haverá mais líderes pomposos que apareciam bem diante das câmeras e das lentes dos fotógrafos, estudando poses e trejeitos. Acabou a brincadeira. Agora começa, lentamente, a prática do que viemos aprendendo nestes longos séculos de treino. Estamos no terceiro milênio. As mudanças há muito profetizadas estão recém começando.

A internet difunde cada vez mais o Espiritismo. Os seus principais conceitos irão se alastrar por outras correntes de pensamento, alavancando o despertamento e atingindo outras denominações religiosas, como algumas igrejas que hoje chamaríamos de evangélicas. Engana-se quem pensa que o Espiritismo se desenvolverá por muito tempo nos moldes em que o conhecemos hoje. Mais importante do que a forma do Espiritismo é o seu conteúdo. E o conteúdo será difundido e exercitado em outras formas, bem diferentes do que estamos acostumados a ver.

Não podemos esquecer que o Espiritismo, de francês, só tem a origem da codificação. É movimento brasileiro, tipicamente brasileiro, sujeito às adequações que às vezes chamamos pejorativamente de “jeitinho brasileiro”. Mas o jeitinho brasileiro só peca pela falta de ética que algumas vezes o acompanha. Até o jeitinho brasileiro tem o seu aspecto positivo. Muitas vezes é tentativa de demonstração de amor, por enquanto revestido de poder e vaidade. 

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